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Foto do escritorBob Wilson

O Que Levo Para a Vida

Atualizado: 4 de jan.

Há uns 3 anos e pouco atrás, eu tinha um total de zero certezas sobre minha vida. Até o Corinthians que a seis anos mandava e desmandava nos certames nacionais e internacionais, já dava sinais de que era o fim de uma era de conquistas. Minha família, sempre os quero bem, sem dúvidas, mas, lá atrás, com os meus recém ultrapassados ​​30 anos, queria mesmo era sair do bairro, da cidade e ficar sozinho, na minha casa, no meu quarto.


Tenho uma filha para criar e não quero ser esse tal pai ausente. A vida é muito mais do que dinheiro. A vida é amar.
E dinheiro? Também é amor.

Na correria da vida, atrás daquela por quem a gente mata e morre para ter na carteira misturada com santinhos e jogos do bicho ($), optei por uma vida à margem dos lucros obtidos. Eles não gostam de mim e eu não costumo flertar com eles. Faço meu corre, organizo minhas contas, consumo o necessário e passei a entender que esse mundo não está aqui para nos servir.


Se você gasta a energia do planeta, então faça o favor de também gerar.

Na época da pandemia, tinha recém-engatado um romance ideal, e já chegou o convite de ir morar com meu "xodózin" do outro lado da cidade. Quanto tempo vou demorar por lá? Será que ela me aguenta? Será que eu aguento ela?


Tudo que planejei nesta vida deu errado. As coisas que fugiram do meu controle e eu tive que aprender a lidar com elas no “flow” , são os meus maiores casos de sucesso. Filha, romance, trampos, família, pandemia… tudo nos cobra.

E o dinheiro?


Nem sempre paga.


Vivo uma vida de incertezas. A única coisa que tenho para a vida, é tempo, textos e cervejas. Por isso, não vendo meu tempo por pouco. Já meus textos, jogo-os ao vento.


Quero ter tempo para viver uma vida inteira com minha filha. Quero ter tempo para desfrutar com a minha família. Quero ter tempo para viver um amor eterno, assim como tive tempo para perceber que só tem tempo quem pode matar o tempo. Para matar o tempo, você não pode ser pego pelas estatísticas do tempo. Minha cor, minha classe, meu país, minha rede de apoio, minha orientação sexual, minha condição física e psicológica me permitem “dar tempo ao tempo”. Para aqueles que o "tempo" é curto, as opções são outras.


Já vivia recluso e em distanciamento social muito antes da COVID. Sou visto, mas não sou lembrado. E isso é ruim já diria o Mano. Chegar perto dos 40 anos com zero certezas não é algo visto com bons olhos pela sociedade.


Mas sempre dá para ficar pior.

Já previ um futuro caótico, de anos de guerra civil por conta de um vírus que nunca morre, ou na guerra por petróleo no país vizinho. Já previ também um futuro onde os seres humanos compreendem e aceitam o seu lugar no planeta, e ressignificamos o nosso modo de consumir a vida e nos relacionarmos com as pessoas, os animais e o meio ambiente.


Risos.


Vamos falar de pandemia? Pandemia é a fome.
A morte do povo indígena, povo preto de pessoas trans.
O machismo, racismo, capacitismo e feminicídio.
Pandemia é o inferno que a polícia faz na vida dos moradores da favela.
A pandemia é de extrema-direita. O desmatamento. O Grande Irmão.
Pandemia é a caça esportiva, o combustível fóssil.
Pandemia é uma ansiedade que toma uma geração que não se dá o direito de ficar off-line, não responder uma mensagem, retornar um e-mail.

Mas a única pandemia que vamos nos livrar é a da COVID. Por que essa, não olha conta bancária, credo, raça e gênero antes de matar .

Notei que ficar no meu bairro, esperarando sentado, assistindo séries e julgando, invejando e stalkeando a vida alheia pela tela de um celular, não me ajudaria muito a chegar aos 40 anos com alguma certeza para vida.


A pandemia nos tira os encontros, abraços, a liberdade, o emprego, o meu "vale", e em troca, me oferece tempo.


Eu tenho uma filha para amar, criar e educar, uma mulher para amar e juntos edificarmos uma vida juntos agora já em outro bairro (papo pra outro dia), uma família para amar e trocar, tenho um livro lançado, uma banda para estourar no mundo, uma porção de vasos de plantas para cuidar além de estar no fronte como aliado para contribuir para que o amor vença.


Passei a usar o tempo a meu favor.


Todas as pandemias que o mundo vive neste momento têm muito a nos ensinar. E o que me preocupa é que quando algo afeta um homem branco, muitos "abaixo" dele já estão saturados. Na merda. Muitas vezes, na cova, algumas vezes populares. Aliás, porque não dizer que se existe uma pandemia, é porque um homem branco entusiasmado e com sede de mais, foi lá e meteu as mãos pelos pés e fudeu com alguém, com uma comunidade, um planeta.


Das minhas dores só eu sei, e não diminuo nenhuma.

Prever o futuro me machuca. Toda vez que me coloco a pensar no futuro, me machuco. Pensar no Ponto B (minha casinha auto-sustentável de 10 mil metros de jardim e horta que quero para daqui uns anos) é um sonho distante para mim que ainda estou aqui no Ponto A, meu bairro. Eu até planejo e faço os corres. Mas evito pensar porque sei que nem sempre os merecedores alcançam o que merecem.


Mas algo que a pandemia me ensionou é que mesmo tendo pouco no dia de hoje, já tenho mais do que tinha quando me tranquei com a minha personalidade em um APTO longe de todos os amigos e familiares, e com minha vida pessoal e profissional um pandemônio. Quando me tranquei em casa no dia 16 de março de 2020 (inicio daquel pandemia) deixei de fora também as incertezas e as preocupações limitantes .


Se um dia duvidei da importância da presença dos meus amigos e família na minha vida, hoje não duvido mais. Se nos dias onde o desânimo vem, e as facilidades de uma vida social comum me convencem a abandonar meus ideais e princípios em troca de um salário e benefícios, hoje, colhendo os frutos do que plantei, não me tento mais a abandonar tudo. O Romance Ideal, se tornou amor eterno. Minha filha desponta como a próxima presidente deste universo, com sua segurança, generosidade, fofura e politicagem. Ela tem 8 anos. E eu, já próximo dos 40, uso o tempo que me sobra para aprender o valor das coisas pelo o que nunca dei e para repassar a ela o pouco que aprendi com o tempo.


Planejo, planejo e planejo uma caminhada leve até do meu bairro até o Ponto B. Uma caminhada que não precise renunciar a valores. Por mais que isso torne a caminhada maior. A aventura está na viagem. Uma jornada curta e superficial traz poucas experiências. Planejo uma jornada longa e rica em vivências.


E o que levo para a estrada da vida,


continua sendo somente tempo, textos e cervejas.


 

Bob Wilson.


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Conte histórias do seu bairro sob o seu ponto de vista de como podemos construir

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envie um email para ediaeescrever@gmail.com com o Título "Molotov Bairrista". Anexe o seu texto proposto, o bairro da onde fala e o nome com o qual assina os seus textos (Ou, se preferir e valorizamos, um alterego).


Avaliaremos e, caso selecionado, publicaremos em nosso blog e redes sociais do É Dia De Escrever, Editora Questione e Diários de Viagem.







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