João e o Tempo
- Edu Mussi
- 10 de jul.
- 5 min de leitura
Era uma manhã bonita de inverno, com temperatura agradável, céu azul sem qualquer mancha de nuvens. A natureza contribuindo para ser um dia feliz, porém João não estava assim. Acordou aflito, sentindo um aperto no coração como se alguém o estivesse esmagando com as duas mãos. As vezes fazia esforço até para respirar. Outras vezes, sentia uma bola na garganta com vontade de chorar, mas as lágrimas não vinham. O desespero era ainda maior, porque ele não identificava o motivo de tudo aquilo. Encheu-se de energia e foi até o banheiro e quando se olhou no espelho, ouviu uma voz vinda de trás de sua imagem que dizia: Conversa com Deus. Assustou-se com aquilo, baixou a cabeça, jogou água no rosto, olhou para o espelho e ouviu de novo a voz repetindo a frase. Resolveu não dar mais bola. Concluiu sua higiene matinal, foi para a cozinha, passou um café e fez seu desjejum com duas torradas e geleia. Depois ficou andando a esmo pelo seu jardim florido, sentou-se sob a sombra de um abacateiro por algum tempo, até que decidiu vestir um moletom e calçar um tênis. Colocou uma garrafa com água na mochila e saiu para caminhar por uma floresta que fica nas proximidades da área urbana e percorrer pelas inúmeras trilhas que por lá havia.
Caminhou por um longo tempo através de corredores formados por árvores frondosas que mal deixavam a luz do sol passar. E a voz o perturbando de vez em quando – conversa com Deus. Quando ouvia a voz, acelerava mais o passo, até que deparou numa clareira circular, geometricamente perfeita como se tivesse sido feita pela mão do Homem. Numa das bordas havia uma pedra em formato de banco sem o encosto onde sentou-se para descansar. Então falou como se estivesse perguntando para alguém:
– Como é que vou falar com Deus? –– E de repente, ouviu uma outra voz por trás dele:
– Me chamou?
Ao ouvir aquela voz em suas costas, pulou da pedra e olhou em direção de onde tinha vindo o som.
– Não se assuste e nem se preocupe, estou aqui para lhe ouvir.
– Você é o Deus?
– Me chame de Tempo.
– Tudo bem Tempo, então me diga o que devo fazer com uma de minhas preocupações que carrego atualmente e que muito me aflige:
– Antes de eu partir, quanto tempo você me concede, para que eu consiga ver a floração completa do meu jardim e também colher os frutos de minha horta? considerando que você é quem gere os destinos de nossas vidas, deve saber disso.
– Isso não tem a menor importância. O que importa é que entendas que não estou a tua disposição para me desperdiçares com coisas inúteis.
– Como assim? Eu lhe faço uma pergunta e você me vem com uma resposta que não tem nada a ver com minha dúvida.
– Porque em vez de você se preocupar quanto tempo dispõe para isso ou para aquilo, faça alguma coisa. Viva sua vida presente.
– E o que você considera coisas inúteis?
– Ah, são muitas. Vou te dizer apenas algumas, as mais comuns: Discutir com pessoas estúpidas; praticar ações que destruam o meio ambiente; se apegar a bens materiais, pois um dia terás que se desvencilhar de todos; consumir além do que necessitas.
– E o tempo que perdi, será que poderei recuperar?
– Jamais! Até porque ninguém me perde, simplesmente me deixam passar, me desprezam. E fique certo de que nunca retorno, jamais, em hipótese alguma. Mesmo desprezando-me, inconscientemente, você aprende algo, não há dúvida..
– E o que devo fazer para ganhar tempo?
– Ganhar tempo?! Isso é outra bobagem.
– Na ilusão de você ganhar tempo, você simplesmente está criando atalhos, pulando etapas importantes para sua evolução e isso o faz desperdiçar mais tempo.
– Quer dizer então, que não ganho tempo?
– Ninguém recupera ou ganha tempo. O que passou, passou porque sou como um rio que segue seu curso impavidamente. Não paro e nem espero ninguém. Nunca poderás me ganhar, porque sempre estarei na tua frente, mesmo que cries atalhos, isso não alterará a quantidade de tempo que tens a disposição para viver. Sei da dificuldade de você administrar o tempo. Isso é um aprendizado, que leva tempo.
– E qual a quantidade de tempo que tenho para viver?
– Quantidade de tempo... muito interessante. A humanidade teve a criatividade de me particionar em segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos e fica me contando. E essa contagem não tem fim, porque sou infinito. E por ser infinito, muitos acham que podem desperdiçar-me, sem se dar conta de que um dia a contagem do seu tempo por aqui parará. Mas o que não sabem, ou fingem não ter conhecimento, ou não querem acreditar, que o tempo de cada um não para quando a vida se encerra. Vocês apenas mudam de lugar. Não importa a quantidade de tempo que você tem para viver por aqui, o que importa é a qualidade que você dá para seu tempo.
– E para onde vamos, então?
– Essa é outra informação que você nunca saberá. Mas lhe digo que há uma infinidade de lugares e o destino de cada um vai depender do que fazem com o tempo aqui na Terra. De qualquer forma, é possível imaginar seu destino, basta prestar atenção na vida que você leva.
– E eu terei um bom destino?
– Ninguém melhor do que você para saber disso. Mas posso lhe sugerir: Para que tenhas um bom destino, usa teu tempo com dignidade, com ética, seja tolerante, pratique a caridade em todas as oportunidades que tiveres. Caridade não significa distribuir moedinhas a mendigos na rua. Isso até pode ser considerado, mas é insuficiente. Jamais seja egoísta, individualista. Viva e pense coletivamente em todos os sentidos. Escute as pessoas.
– E se eu falhar em alguma dessas sugestões?
– Lembre-se que se você fracassar, não se aflija, pois haverá uma nova chance. E se você errar por opção, também não se torture, pois haverá sempre o perdão. Acredite que jamais chegará às suas mãos aquilo que não será bom para você.
– Será que ainda terei tempo de abraçar meus amigos e amigas? Não são muitos, porém são importantes para mim.
– Isso você nunca saberá e é para seu bem.
– Por que?
– Porque não conseguiria fazer qualquer alteração na sua jornada e só lhe causaria aflição, prejudicando o curso de tua vida. Portanto, em vez de ficares pensando se ainda tens tempo de ver teus amigos, trata de agir e vai em busca deles. Fique certo de que se souberes aproveitar bem o tempo, ele durará bastante.
– Não gostaria de partir sem me despedir dos meus amigos.
– Te preocupas tanto com teus amigos, isso é bom, mas e teus familiares, já dissestes hoje, para algum deles que o ama? Se não, o que estás esperando?
– Mas Tempo...
– Sinto muito, mas teu tempo já acabou. Boa viagem.

Hoje é sábado.Acordei deparei com essa história,leve e gostosa com mto significado.Gostei,obga.