Felícia, as Crianças e a Escola
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Felícia, as Crianças e a Escola

Naquela manhã de segunda, Felícia colocou seus filhotes na bolsinha e saíram pelo bairro, bem cedinho com o sol nascente e o ar fresquinho. As ruas do entorno do parque estavam vazias, as crianças andaram pelas calçadas na supervisão da mamãe, sentiram o perfume das flores, brincaram nos galhos das árvores, colheram pequenos insetos para a lancheira, até a hora que Felícia avistou a Sra. Fifi.

Sra. Fifi era uma hiena que morava no segundo andar em cima da casa da Dona Felícia, uma saruê que morava com seus dez filhotes.

Num gesto de cabeça, a mamãe chamou e os filhotes voltaram para a bolsa quentinha e protetora de Felícia.

A Sra. Fifi se aproximou com seu eterno ar de derrota, sempre reclamando da vida. Felícia estava sem paciência para ouvir as lamúrias da vizinha e então a cumprimentou e continuou andando com passos rápidos até chegar na tão sonhada calçada da mais escola nova.

As crianças estudavam na escola que tinha pertinho de casa com o professor Ludovico e a professora Margarida até completarem seus quatro anos. Agora era hora de mudar, as crianças estavam crescendo e a nova escola os esperava.

Felícia passou pelo vão do portão azul que dava para o primeiro pátio, se dirigiu até o jardim da "Casinha dos Sonhos", deu uma espiadinha para a direita e em seguida para a esquerda e quando viu que estava seguro, disse para as crianças saírem. Seus dez filhotes desceram, um a um, com olhinhos brilhantes de ver o lugar que acabaram de chegar.

Eles estavam admirados com todo aquele verde parecido com o parque que moravam. Quando chegaram no anfiteatro externo, foram recebidos pelo professor Franz e a professora Fritz. As famílias foram convidadas a passear com as crianças para conhecerem a escola nova e orientados a ficarem alertas com os gatos da vizinhança que vinham passear por ali.

No passeio pela escola, saíram do "Anfiteatro" rumo ao "Bosque" onde avistaram várias árvores frutíferas como amoreiras, carambolas, pitangueiras. No caminho encontraram o "Minhocário" que estava cheio de deliciosos vermes entre as folhas secas. As famílias estavam admiradas com os espaços que as crianças iam conviver.

A Sra. Fritz e o Sr. Franz continuaram caminhando pelas folhas secas, até chegar na "Ciclovia", onde tinham algumas pistas cimentadas que as crianças iam se divertir muito. De lá foram para o maior parque da escola, conhecido pelo "Parque da Floresta" que ficava ao lado do "Parque do Tarzan" e que abrigava o "Espelho D'Água" construído para as crianças brincarem em dias quentes. Subindo o parque da floresta, até o "Parque da Quadra" e a "Quadra", passamos pelo "Jardim", pelo "Parque do Trem", o "Ateliê" , o "Parque do Tanque" e o "Cantinho do Ócio", dizia meu pequeno, o nono filho. Nos olhamos sem entender nada, quando ele apontou para uma árvore oca, demos muitas risadas porque ele gostava de dormir sentindo a brisa bater em suas orelhas.

Em todos esses espaços, na escola maior que eles conheciam, com dez mil metros de área verde, também haviam muitos perigos para seus filhotes e eles teriam que aprender a se defender, embora fosse chegada a hora de "desmamar" definitivamente.

Mamãe Saruê não tinha dúvidas quanto a escolha da nova escola e sabia que seus pequenos e queridos filhotes seriam muito felizes ali.



 

Queridos leitores,


Este conto infantil foi inspirado na escola que eu trabalhei por quatro anos, fui muito feliz e sinto saudades. Todos os espaços existem, as crianças aproveitam até hoje.

Uma escola pública que marcou a minha vida profissional, ainda me arranca lágrimas. Um espaço onde construí amizades, memórias e marcas.

Hoje trabalho numa escola bem pequena, pertinho de casa, porém muitas vezes meus pensamentos viajam para lá.

E, por que os saruês? Porque convivemos com várias famílias de saruês passeando pelos mesmos espaços que nós e as crianças usávamos.

Minha última turma era da "Sala Lilás". Um certo dia enquanto as crianças brincavam nos cantinhos da sala e eu vistava agendas, olhei para fora, pela porta de vidro e vi uma saruê passando com seus filhotes pendurados nela enquanto ela ia para o caminho do bosque ou quando íamos para o parque da floresta e víamos a saruê com seus filhotes na árvore oca.

Todas as pessoas respeitavam os espaços das crianças e dos animais, mesmo com atritos e conflitos como uma escola deve ser.




Fêmea de Saruê com três filhotes nas costas, todos em cima de um galho de árvore
Saruê ou Gambá Brasileiro

Zaira em Conexões


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