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Entrevistando Roberta, por Roberta Zancani

1. Como você se sente fazendo essa entrevista?


Sinto estranheza. Estou retornando aos poucos de um momento de distanciamento com a vida pública e ainda sinto que não sai totalmente da toca. É como se saísse um pouco para dar uma olhada para ver se as flores da primavera deram lugar ao gelo, e ao ouvir passos retorno rapidamente ao esconderijo. Fazer essa entrevista é um pouco desconfortável.


O que de interessante tenho para passar? Por que vão querer me ouvir?


Além disso, é muito estranho ter minha intimidade eternizada em um texto. Me sinto tão

volúvel, o que eu penso e sinto hoje poderá não ser igual daqui um tempo. As vezes fazer

entrevistas me faz sentir refém dos meus pensamentos naquele momento.


2. Como esse ser, que está prestes a sair da toca, se sentiria mais seguro para dar os

próximos passos? Como o mundo que ele encontrará poderia agir para facilitar esse processo?


Dentro da minha casa é bem escuro e estou há muito tempo sem ver o meu reflexo no lago.

Não sei mais qual é a coloração do meu pelo, qual o meu peso atual, a cor da minha aura, se sorrio da mesma maneira e também não sei como se encontra a minha alma visível por meio do meu olhar.


Me sentiria muito a vontade em um ambiente de aceitação genuína, amoroso e de

acolhimento. Que a lei fosse a verdade e que fosse dita com zelo e respeito.

Seria muito bom me reconectar ao coletivo.


3. Pode me falar mais sobre essa reconexão com o coletivo?


Esse tempo de reclusão foi e está sendo primordial. Fiquei imersa em mim mesma, refleti

sobre muitas coisas, conectei com minha família espiritual, reconheci o meu corpo, reencontrei comigo mesma.


Agora sinto a força do coletivo pulsar em mim. Uma vontade de olhar nos olhos, de abraçar, de sentir a força das minhas irmãs e irmãos.


De trocar, sabe? Entender que tudo isso que experienciei será de grande valia para o meu

povoado. E de que escutá-los alimentará a minha alma e me transformará no pequeno grande pássaro.


Interessante, enquanto falo sobre isso com você, me veio uma imagem, do meu futuro, do

meu retorno.


4. Você pode dividir com a gente essa sua visão?


Me vejo saindo da toca, caminhando um pouco, vendo as flores, conversando com a natureza e quando olho ao redor, começo a ver movimento, uma aldeia com vida, crianças brincando e dançando, pessoas alegres fazendo comida e cantando e uma linda fogueira. Uma criança chega até a mim, toca no meu rosto e diz que estava com saudades. Lágrimas escorrem em meus olhos, eu beijo sua bochecha e dou um abraço bem forte naquele pequeno corpo de alma grande.


Ela sai correndo e traz o restante da aldeia. Eles me chamam pelo nome – eu não lembrava

mais que tinha nome - me acolhem e formam um círculo. Começam a cantar em ritmo forte de amor, nos damos as mãos, olhamos fundo nos olhos de cada um que está na roda.


Me sinto viva, em casa.


5. Me senti em outro tempo com esse relato, Roberta, agradeço por essa nossa

conversa. Como estamos chegando no fim dessa prosa, gostaria de pedir que você

falasse como está se sentindo agora.


Fico surpresa como a construção de uma conversa com entrega, confiança e dedicação entre as partes, pode transformar tanto. Essa nossa troca representou muito para mim. Ser ouvida, e ser estimulada a conectar com algo maior.


Agradeço pelo convite, por abrirem espaço na agenda de vocês e espaço de fala para a minha voz.


Se me permitem, gostaria de deixar uma mensagem para a Roberta do passado, presente e

futuro e para quem quiser recebe-la.


Deem o primeiro passo.

Quando estiver desafiador,

Quando sentirem medos e bloqueios,

Deem apenas um único passo.


Como diria um sábio amigo: “Dê o primeiro passo que Deus coloca o chão”



Roberta Zancani é uma das 20 integrantes do Grupo LGBTQIA+ de Novos e Novas Autores do Projeto É DIA DE ESCREVER.

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