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Foto do escritorJean F.V.Oliveira

Caliptus




Quando despertei estava sentado em uma cadeira de frente para a mesa que ficava no centro da biblioteca dos alunos do convento da Ordem da Luz. Não conseguia sentir meus braço e pernas e não conseguia mexer meu pescoço. Minha mente estava enuviada e meus sentidos dormentes, só me restava a visão e mesmo assim havia névoa na periferia do meu olho. Caelestis e Fábula entraram em perspectiva devagar. Caminharam deliberadamente para o lado oposto da mesa e juntos colocaram um antigo e enorme tomo cor de areia na minha frente.


- A primeira vez que vi o mapa foi um dia depois da cerimônia dos meus votos perpétuos para o Ordem. – Caelestis não olhava em minha direção e passava um de seus dedos finos sobre a capa do livro. – Os guardiões anteriores nos levaram até a Torre da Luz e de lá seguimos até as bases no subterrâneo. Nos disseram que a missão dos sacerdotes missionários em Terriare tinha sido um sucesso e que infelizmente pereceram quando nos enviaram o conhecimento. Os membros da antiga família descendente da ancestral Governante Lux foram deixados em um estado de suspensão animada já que o mapa era parte encrustada em suas almas. Uma incompetência que jamais teria passado se o rito de coleta tivesse sido realizado por mim.


A seleção para missão tinha acontecido há mais de cem ciclos e Caelestis ainda sentia rancor por não ter sido selecionado. Junto com Fábula e Ilusia formaram uma das tríades missionárias mais poderosas que a Ordem já viu, porém a descendência de Cinerae, que fazia parte da minha tríade, foi fator decisivo na nossa escolha.


- Sim, claro. Nepotismo. Mas não acredito ter sido esse o fator decisivo meu caro Caliptus. – De maneira muito calma ele olhou para Fábula que concordou coma cabeça e juntos tocaram no livro.


Estavam vigiando cada um de meus pensamentos. Precisariam de uma força extra para conseguirem furar meu escudo mental e realmente adentrar minha mente. Estavam potencializando suas habilidades mentais com a ajuda do tomo.


- Seu escudo mental é realmente formidável. Nem mesmo sob efeito da habilidade de torpor de Fábula ele é desfeito ou enfraquecido. Surpresa nenhuma de um missionário vindo de Terriare, o lixo mental dos habitantes daquele inferno deve ser ensurdecedor. – Deram as mãos e percebi que Fábula estava pálida e suando pelo esforço de me manter sob sua custódia. – O Mentis Verbum nos dará o impulso necessário para romper o véu da sua mente. É um se nossos tomos mais poderosos.


O livro começou emitir uma luz e do centro da testa de Caelestis e Fábula surgiu uma esfera de luz que veio voando em minha direção...

  

Era a manhã do dia seguinte quando tinha retornado da minha primeira missão em Terriare. Despertei com Cinerae entrando em meu quarto e propositalmente batendo forte a porta.


- Peço desculpas meu querido irmão. Imaginei que já estaria acordado uma hora dessa devido a importância desse dia. – Abriu a cortina do quarto e cruzou os braços olhando para mim.


- Amada irmã relembre-me por favor da importância desse dia pois diferente de ti não vejo o futuro. – O véu da noite ainda cobria o céu e meus olhos se recusavam ficar abertos.


- Sabes bem que vejo somente as linhas do futuro e a desse dia está cristalina: terá de desaparecer ou perecerá. – Enquanto falava me entregou uma bolsa e meu casaco com capuz.


- Para onde irei Cinerae? Além do palácio Vyan tudo o que conheço em Terriare está contido aqui nesse templo.


- Te direi onde estará seguro...por um tempo. Depois não consigo mais enxergar o fio da sua existência e em parte isso é bom. Se nem mesmo minha habilidade consegue te localizar eles também não serão capazes.


   - Irei para além da existência? Não consegue ver mais o fio...


  - Pare de proclamar bobagens Caliptus. Agora me diga tudo o que viu e ouviu ontem no palácio e por que o príncipe da cidade te enviou escoltado por guardas e em segredo.


   - Estávamos em seu quarto aplicando meu escudo para que ele recebesse seu amado. Os pais deles não aprovam sua natureza então tudo precisava ser bem quieto. Eu receberia o rapaz pela entrada subterrânea próxima aos arcos do rio e o esconderia sob meu manto mental até que ele chegasse aos aposentos. Ele é um delegado da Lei dos 7 e isso para mim foi surpresa. Já era tarde demais para aplicar os protocolos necessários já que os delegados da lei são proibidos de adentrarem o palácio pois o príncipe o aguardava ansioso e teriam pouco tempo. Depois dele entregue aguardei do lado de fora do quarto perto da porta. Passado pouco tempo escutei o príncipe chamar meu nome e adentrei o quarto rapidamente vendo que o delegado estava imóvel deitado no chão. Na mão dele havia um cristal com inscrições em uma linguagem que não consegui ler e o príncipe me pediu ajuda para mover o corpo dele para dentro de um baú que estava na beira da cama. Disse que me explicaria depois e me mandou de volta escoltado pelos guardas do castelo até o templo. - A história saiu expirar de alívio.


   Cinerae me olhou por um longo momento e então voltou seus olhos para a janela. Se apoiou no parapeito e suspirou algo. Já conhecia aquela expressão dela e significava que algo em minha história desencadeou visões importantes.


   - Virão atrás de ti Caliptus. Pelo que presenciou. A Lei dos Sete já sabe que o mapa se encontra com a família Vyan e pelo o que parece decidiram entrar no jogo. A lei não pode te interrogar e muito menos descobrirem o envolvimento da ordem nessa missão. Não ainda...


- A lei jamais seria capaz de ver através do meu escudo mental.


- Não os subestime meu estimado irmão. As mãos e os olhos da lei estão por toda parte. Muitas vezes escondidos por detrás de véus que nem mesmo a Ordem da Luz compreende. Terá de ir para Nordegum ao norte de Vii. É uma vila entre os montes que fortalecerá sua habilidade de se manter imperceptível. Vejo sua linha segura até lá e depois nem mesmo minha alma consegue distinguir seu trajeto. Acredito que descobrirá por si próprio.

 

 

Minha consciência foi arremessada de volta ao convento a tempo de Caelestis segurar Fábula e evitar que ela caísse desmaiada. Gentilmente ele a sentou em uma das cadeiras da biblioteca e acariciou seu rosto.

  

- Estamos quase lá Fábula minha. Já temos a informação que eles querem. Se evitarmos que o mapa seja roubado estaremos livres das amarras do caos. – A voz dele sempre calma e musical estava agora coberta de ansiedade e preocupação. – Terá de usar sua voz para faze-lo obedecer. Precisamos ser três contra os três ladrões.


Fábula tocou o rosto dele e senti que estavam se comunicando. Ele a ajudou a se levantar e andar até a mesa novamente. Ela colocou uma mão sobre a garganta e outra em sua testa e começou a falar em um dialeto incompreensível. Senti meu corpo mexer. Andei até eles, mas não estava no comando. A voz dela ressoava no meu ouvido e era ao mesmo tempo magnífica e aterrorizadora. Inclinando-se para perto do me rosto sussurrou em meu ouvido.


- Nos ajudará a roubar o mapa!

  

E nada agora era mais sagrado do que obedecer às palavras de Fábula.




 

  Caelestis e Fábula revelam ser adversários formidáveis para Caliptus e planejam algo que vai de encontro a missão que ele teve em Terriare. Passado, presente e futuro se encontram em interesses opostos.


Na esperança que se divirta em cada território de "Os Planos". ^^ Se deseja descobrir mais sobre essa trama clique nos posts relacionados abaixo e acesse os outros contos.



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