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Autobiografia, por Ya Ferreira

Atualizado: 18 de mai. de 2021

Nasci numa sexta-feira à tarde, Dia dos Namorados, e fiquei alguns dias internada no hospital, pois não chorei e tive problemas de respiração. Eu não tive nada grave, mas eu brinco que nasci em silêncio, porque não queria sair da calmaria do ventre da casa-mãe.


Fui daquelas crianças que falam muito com quem confiam e que observam o resto do mundo pela portinhola da casa. Sempre via história em tudo, eu era apaixonada por todas as narrativas da televisão, mas nunca consegui contar as histórias que eu carregava. Parecia que eu queria guardar as palavras dos dias cinzentos para mim. Eu achava que podia controlar as narrativas que eu queria contar, sem saber que é muito mais difícil contar histórias sendo um corpo negro no mundo.


Meu pai faleceu quando eu tinha 5 anos e eu lembro que a última vez que eu chorei de soluçar pedindo para que ele voltasse foi aos 12 anos. Eu tinha a mania de pensar que se meu pai estivesse ali tudo seria diferente, eu não passaria por dificuldades e ele iria me defender quando alguém brigasse comigo. Aos 12 anos eu entendi que, não, ele não voltaria mais. Hoje, eu busco lembrar tudo que eu carrego dele na pele e na memória. Outra coisa é que, apesar da minha timidez, eu amo dançar e fico pensando se também não é por causa dele, porque a minha tia conta que meu pai adorava dançar. Ela disse que ele sempre dançava nos bailes de um clube aqui da cidade.


Eu sempre fui curiosa e é isso que ainda me move, a chance de descobrir algo novo. Eu gosto quando alguém me conta a sua própria história, algo que é impossível outra pessoa vivenciar no mundo. Então, se eu fosse falar sobre um medo, seria o medo de não conhecer novos textos, pessoas e lugares.


Sobre as coisas que me marcaram, eu vejo que as cicatrizes na minha pele contam sobre os pequenos tombos da infância e as outras cicatrizes que eu carrego por dentro falam sobre todas as vezes que eu também caí, mas eu quero falar de outras coisas que me marcaram além das cicatrizes. Eu sei quando vi o mar pela primeira vez, pela segunda e até a vigésima vez. Eu lembro da liberdade de andar de bicicleta, até porque só aprendi a andar já adulta. Eu também me recordo quando passei na faculdade e, principalmente, de quando saí de lá. Todos foram momentos de sensações singulares.


Contudo, a lembrança mais marcante é de quando percebi toda a beleza e história ancestral que meu corpo pode expressar, confesso que ainda estou buscando e aprendendo sobre a minha e a nossa história, pois a gente tem muito passado não contado, mas é este caminho que me movimenta e me ajuda a ser um corpo presente no mundo.




Ya Ferreira é participante do grupo de Negritudes do projeto É DIA DE ESCREVER.


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@yaraferreiraz

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