Solidão, insegurança, baixa auto-estima. Entrei na adolescência com estes sentimentos, segui pela vida adulta e vou morrer com eles.
Encontro de "brotos", matinês em clubes. Primeiro, escolher a roupa certa. Que coubesse no corpo percebido como gordo. Escolhida a roupa, briga para arrumar os cabelos sem escova ou chapinha, somente touca feita de meia-calça. E tinha o óculos fundo de garrafa, pra enfeiar. Para ser uma boa festa, tinha uma sofrência antes.
Sem o bendito óculos, fui para o clube, levada pelo carro velho da família. Música da época, dancinha da época que eu ensaiava em casa sozinha, para não fazer feio. Dançar junto ou solto? Solto era melhor, se o menino não correspondesse às expectativas. Juntinho era romântico, mas tinha que ser com alguém que cheirasse bem e não tivesse mau hálito – pois o primeiro beijo era esperado ardentemente.
Naquele dia, a espera estava longa. Não enxergava nada, pois a miopia era grave. Até que meus olhos encontraram o que acreditaram ser os de um menino, encostado na coluna do salão. Sorri, fiz charme. Ele não vinha. Será que meus cabelos estão arrepiados? Será que estou ridícula nesta mini-saia? Lá vinham eles, os sentimentos. Criei coragem e me aproximei mais da coluna, para dar incentivo ao menino-tímido. Mais próxima da coluna, e nada. Mais próxima - e vi. Não tinha nenhum menino. Eu estava flertando com uma coluna!
Respirei com alívio.
Enterrei aqueles sentimentos criados pela minha imaginação - e pela deficiência grave de visão!
Gattorno Giaquinto
# 18: Dia do Riso
O bom que a coluna não reprimiu. Deixo-se ser admirada.