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Fábula: Um Amor Descontrolado

Era uma casa um pouco engraçada que guardava, ali naquela janela alta, uma gaiola. Que triste pensar em pequenos animais presos em gaiolas, onde já se viu?


Mas foi assim que essa história aconteceu. Quais animais estavam ali? Oxi, é claro que eram hamsters. Humanos e sua compulsão em controlar pequenos, fofinhos e coloridinhos hamsters.


Alguns desses roedores aceitam tranquilamente serem controlados, acreditam que, na verdade, foram criados para viver nessa gaiola, olhando as estrelas, esperando estar entre elas e sorrirem felizes pulando pela galáxia. Mas alguns são tocados pelo saber de que deveriam ter mais, viver mais. Veem coelhos e insetos aproveitando a grama, a terra, o lago, e vivem desejando. Sim, desejando viver!


E assim era o, "Chefinho" hamster, assim conhecido, que na noite mais bela reclamou sozinho:


— Ahh! Estou cansado dessa vida de roedor, entro na roda, giro e giro, como,

durmo e ouço meus colegas felizes agradecendo a vida que levam. Como seria se eu

pudesse andar pela terra? Será que é só isso para mim?


O Chefinho hamster, lamentava consigo todas as noites para que as estrelas

ouvissem e talvez, apenas um único e distante talvez, realizassem seu desejo. No

entanto, quando se lamenta muito e a dor já não pode ser contida no peito, alguém acaba ouvindo sem querer.


— De quem é essa voz? — Pensou o coelho quando passou ao pé da janela —

OLÁ! Quem está aí?


Assustado, o hamster ficou em silêncio.


— Desculpe atrapalhar seu momento, mas acho que você precisa conversar.

— Por que acha que preciso conversar? Talvez eu esteja apenas… — É o hamster não soube responder. Como podia não conseguir dizer nada quando o que mais tinha era o que dizer?

— Quando guardamos palavras demais e não as soltamos, elas decidem sair como querem e, na maioria das vezes, não gostamos do resultado.


— Ei…

— Eu só quis dizer que, às vezes, é bom dizer o que está guardado e eu sou bom

em ouvir, te juro. Daqui cinco minutos nem vou lembrar do que disse.


O Chefinho, contrariado, decidiu pela primeira vez desabafar de verdade. Não,

não… Não é aquele tipo de desabafo que escolhemos as palavras que deveríamos dizer.


Foi aquele desabafar que as palavras saem sem medo e que nos deixam mais leves por terem saído. Era um choro aqui, uma raiva ali, uma mesmice de roda que gira e gira e nunca acaba, só repete todo santo monótono dia.


Só que mais profundo que uma rotina de um roedor qualquer, havia uma liberdade não vivenciada e um desejo de amar latente. Isso fez o coelho saltar. Sério, literalmente, ele saltou e se espatifou ao lado da gaiola. O hamster riu, e como era linda sua risada.


Era fofa, era maravilhosa.


— Qual é o cachorro que detesta ouvir alguém falar? — Perguntou o coelho.

— Sei lá…

— O SHIIIIIIH TZU, gostou? Gostou?

— Puts, essa foi de acabar com o carrapato.


Sim, sabemos que essa piada foi péssima, mas nós rimos, né não?! Enfim, a noite toda foi assim. Sorrisos, risadas, conversas, desabafos. O coelho, emocionado que era, começou a ver o brilho dos olhos do Chefinho, a leve arqueada de sorriso nos lábios do amigo, as viradas de orelha toda vez que o barulho da natureza seguia o ritmo de Born This Way, e se perdeu. Imaginou andando pela floresta banhados pela luz do luar, assistindo às peças teatrais da joaninha voraz. Puts, apaixonado!


— Você viria comigo caminhar pelo jardim?


O convite pegou o hamster de surpresa.


— Que?!

— Nada não, besteira. Foi só uma ideia que passou e…

— Como?


— Você viria se eu desse um jeito?

— É claro!!!


O coelho observou, pensou, calculou, pensou de novo, planejou e decidiu. Com

seus dentes, roeu as grades daquela gaiola. Doeu bastante, mas valia o esforço. Ver um sorriso e o sonho do seu crush (eu falei crush mesmo? Que cringe) não tinha preço, valia a pena. Acredite se quiser, a gaiola foi aberta e o Chefinho saiu num impulso. Muitas vezes é melhor só ir sem pensar para não estagnar.


— E agora? O que eu faço?


Liberdade de uma vez assusta, eu sei muito bem.


— Vem comigo.


Que alegria, que euforia. O coelho colocou o hamster nas costas, pulou bem alto e levou sua paixão para a maior aventura da vida. Chefinho não conseguia se conter, perguntava sobre tudo e todos. Se assustava, se escondia e se apoiava no seu guia turístico do vale, ops, jardim Vale dos unicórnios.




Viram o teatro da joaninha voraz, cantaram desafinadíssimos “você vai gostar do gosto do meu beijo”, dançaram coladinhos no baile de formatura, entraram no lago e jogaram água um no outro. Que noite incrível, icônica. Tudo que o hamster sonhava, será que era real? Será que ele não acordaria num susto por causa da roda que travou?




Mas a noite estava terminando. Tudo bem que aproveitaram como nunca na vida, mas, quem sabe, testassem novos roteiros na noite seguinte?


— Ainda me perguntando o porquê você gostaria de mim… — Sussurrou, Chefinho.

— Oi?!

— Não consigo deixar de gostar da ideia, sei lá… eu fico animadinho… só queria

saber em específico o que se passa nessa sua cabeça.

— Eu me apaixonei por você. Acho que te ver naquela gaiola e saber que podia te dar um pouquinho de sorrisos me fez… te amar.


O hamster abriu os olhos, nunca ninguém o vira daquela forma. Ele sempre tinha sido invisível e condescendente, mas agora… Bem, era simplesmente ele.


— Não sei como reagir, AHHH! Queria falar, mas minha mente não se abre como eu queria…

— Não tem que falar, só… sinta. Só te quero ver feliz.

— Mas e agora? — Era possível ver o hamster tremendo ao fazer essa pergunta.

— Agora, o que?

— É literalmente proibido, sem brincadeira nenhuma. Vale a pena?

— Tá tudo bem ter medo, mas eu gosto de verdade de você e para mim, esse

momento é tudo o que eu quero agora.


Vamos de clichezinho. Eles se olham, se aproximam, a lua brilha mais forte, a

música instrumental toca ao fundo, os grilos cantam, a brisa toca seus rostos. Seus lábios se colidem, explodem, o calor toma conta do corpo e, nesse momento, nada mais existe, somente esse doce beijo. Quando pararam, o sol decidiu aparecer e esquentar as peles dos amantes mais corajosos da noite.


Mas com o sol, tudo se torna evidente e o escondido passa a ser visto. Por isso,

quando Chefinho se deu conta… ele olhou para a gaiola. Sua amiga o viu. Seus olhos

mudaram e a alegria da noite passou a ser algo diferente, algo que não deveria estar ali.


— Fica! — Pediu o coelho.


Em vão, o pedido. O hamster voltou à gaiola. O hamster olhou, de longe, para o

coelho e este o enxergou. O amor continuou, porque guardamos quem amamos no

coração.



Moral: Faça do “agora” seu “para sempre”, pois não há como saber por quanto

tempo o “para sempre” permanecerá.

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