Do Confisco à Canção: A Balada de Collor e o Sertanejo Político
- Bob Wilson
- 28 de abr.
- 6 min de leitura
Olá, nobres!
Dia desses, veio a coincidência. Estava eu, por algum motivo que não me recordo, procurando uns vídeos ao vivo do Lulu Santos, nas antigas.
E, ao mesmo tempo, Collor estava sendo preso. Não sei se meu celular se ligou na notícia da tv, mas o próximo vídeo já foi do Lulu Santos no programa do Faustão com sua verve afiada. Ele criticava o então presidente Fernando Collor de Mello e a ascensão meteórica da música sertaneja, que, segundo ele, servia como trilha sonora para um Brasil anestesiado. Confesso, que naqueles tempos, era eu apenas um menino de 7 anos que comia terra no parquinho. Mas, anos depois, me toquei que a trilha sonora que lava mentes e carrega uma cultura capitalista para a arte (um lugar de coletividade), é, infelizmente, porque canto várias, naqueles tempos e ainda hoje, o sertanejo.
Mas foi com Luluzinho, que percebi como a arte e a cultura (e não esqueçam da, Fé) podem ser utilizadas como ferramentas de manipulação social, moldando percepções e, por vezes, encobrindo ou impondo realidades incômodas.
Mas, vou deixar Luluzinho de lado, e como uma onda no mar, quero fazer um retrospecto sobre a vida e obra de, Fernando Collor de Melo, aquele que era só mais um rostinho bonito na tv.
1989: O Caçador de Marajás e a Canção de Uma Escolha Difícil.
Chegou um marajá e um Sindicalista a disputa presidencial de 1989.
O sindicalista, já conhecido por sua trajetória social e política intimamente ligadas às lutas pelos direitos dos trabalhadores. Em plena a ditadura o cara tava liderando greves no ABC Paulista no final da década de 1970 e início dos anos 1980. Ele é quem surge como uma liderança popular, com um discurso forte contra as elites e em defesa dos trabalhadores.
Já o marajá, que tinha uma origem na elite política e empresarial, foi quem conseguiu convencer a sociedade de que ELE, apelidado "O Caçador de Marajás", era a escolha certa para lutar contra os privilégios DA PRÓPRIA FAMÍLIA E AMIGOS DA ELITE.
Não se engana milhões de pessoas ao mesmo tempo sem MUITA AÇÃO COORDENADA (DE PESSOAS MOVIDAS PELO CAPETA).

O movimento que elegeu o maior batedor de carteira do Brasil, foi o de convencer todo um povo de que seu adversário era radical (Movimento e falas utilizadas até hoje contra candidatos da esquerda). Apelou para imagem pessoal. Apelou para o passado como ex-sindicalista. Apelou para falta de educação formal. Que quem lidera greve não lidera um país. Disse que Lula era uma "marionete" de líderes externos de esquerda. Por fim, não poderia deixar de apelar para o comunismo.
Após o fim da ditadura militar, o Brasil ansiava por renovação. Em 1989, Fernando Collor de Mello emergiu como o "caçador de marajás", prometendo modernizar o país e combater a corrupção. Sua campanha foi embalada por jingles pegajosos de péssimo gosto e contou com o apoio de diversos artistas, incluindo nomes do sertanejo que viam nele a promessa de um novo Brasil.
Lula, ali (e provavelmente, só aquele Lula de 1989), poderia ter sido a ruptura com o modelo social e econômico de mercado que sertanejos e o povo tanto queriam.
Mas venceu o Playboy.
1990: O Confisco da Poupança e o Silêncio das Canções
Logo após assumir a presidência, o agora preso (2025), "Caçador de Marajás", implementou o "Plano Collor", que confiscou cerca de US$ 100 bilhões das cadernetas de poupança, aproximadamente 30% do PIB nacional na época. Nobres, saibam que não houve na história da humanidade, proporcionalmente ao PIB de um país, um roubo maior do que o promovido pelo Plano Collor.
E esse assunto me toca, e imagino que vá trazer lembranças boas ou ruis desta época para vocês eleitores, 35+, porque vimos notícias (ou fomos elas) de milhares de brasileiros vendo suas economias desaparecerem da noite para o dia. Foi tipo aquela conta que você não esperava no mês e raspa todas suas moedas da conta.
Caso de falência!
Assim como foi para muitos naquele período. Infartos e até suicídios foram registrados, como o de um empresário que, ao perder tudo, tirou a própria vida. Teve a morte de uma senhorinha em Belo Horizonte que juntou dinheiro a vida toda para conseguir uma velhice segura, e após o confisco entrou em depressão, ficou estressada e bateu biela.
Caros e caras leitoras, a lista é grande de casos de suicídio e alterações psicológicas na sociedade neste período.
Enquanto isso, o sertanejo avançava Brasil a fora invadindo casas pelos rádios, alheio ao sofrimento do povo.
1992: Impeachment e a Persistência da Melodia
As denúncias de corrupção envolvendo o tesoureiro de campanha de Collor, PC Farias, culminaram no movimento dos As denúncias de corrupção envolvendo o tesoureiro de campanha de Collor, PC Farias, culminaram no movimento dos "Caras Pintadas" e no impeachment do presidente. Só de lembrar de gente de verde e amarelo na rua, já engatilha meus traumas.
Igual escutar alguém pedindo para colocar Gustavo Lima na playlist da festa.
Vai entendendo a curiosidade do sertanejo de mão dadas com o porcos da política.
Início dos anos 90, a música sertaneja manteve sua presença constante na vida das pessoas, mas agora, muitas vezes, curiosamente, evitava posicionamentos políticos claros, mas seguia servindo como trilha sonora para um país em ebulição.
2023: Condenação na Lava Jato
Não foi em 1992 que vimos o verme ser preso ou sofrer algo considerável na sua vida política ou econômica. Continuou rico e anos depois, voltou a ser senador.
Nestas horas eu só penso... "P@@rr* BRASIL!"
A capacidade do cidadão brasileiro de votar em candidatos lixos e notavelmente corruptos e egocêntricos, é impressionante. Na verdade, isso tá em alta no mundo atual. É a tal da globalização.
Mas foi décadas depois, que muitos que viveram aquela época e ainda estão vivos, tiveram o gozo de ver o (ele sim) marionete de banqueiros, condenado a oito anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, acusado de receber R$ 20 milhões para facilitar contratos entre a BR Distribuidora e a UTC Engenharia. A Operação Lava Jato (outro trauma) revelou um esquema de corrupção que permeava diversos setores do governo e da iniciativa privada.
2025: A Prisão e o Eco das Canções
Somente em abril de 2025, esse dias aí que estava escutando Luluzinho enquanto a televisão passava a notícia de que o marajá, Fernando Collor, foi preso em Maceió para cumprir sua pena, que o gozo foi completo.
Em 2025, já tá escancarada como as elites agem.
Eles dominam o dinheiro
Eles dominam o discurso por meio das big techs, imprensa, redes sociais, o tal mercado (Faria Lima)
E eles tem o maior estilo musical do país a disposição deles
A música sertaneja domina os acordes da vida de muitos, muitas vezes associada a discursos conservadores e de apoio a políticos de direita.
A Canção como Ferramenta Política
Durante o governo Collor, mais de 40 artistas sertanejos participaram de eventos em apoio ao presidente, como na famosa visita à Casa da Dinda*. Anos depois, muitos desses artistas, e a nova safra podre do Sertanejo Universitário, expressaram apoio a Jair Bolsonaro, evidenciando uma continuidade na aliança entre o gênero musical e políticos de direita.
Isso, não diz respeito as coincidências que falei ao longo deste texto. Quem apoia (não você ou eu que não temos influência nem na nossa rua. Tô falando de gente famosa) e financia com muito dinheiro um candidato (sejam artistas ou empresários), sempre espera algo em troca.
De Bolsonaro e voltando no tempo até a trajetória de Fernando Collor de Mello. Do golpe sofrido pela Dilma ao confisco da poupança. Da tentativa de golpe em 08 de janeiro de 2023 à prisão por corrupção do Marajá. Tudo serve como um lembrete das complexas interações entre política, cultura e sociedade.
Não é meu papel aqui dizer se sertanejo é ruim ou bom. Como já disse, gosto de muitas canções de artistas sertanejos (99 pra trás) que como pessoas eu repudio.
Só trago a visão que já tinha e Luluzinho me relembrou enquanto tacava merda no ventilador no programa do Faustão, que a arte, e neste caso a música, especialmente o sertanejo, desempenhou e desempenha um papel significativo na formação de opiniões e na construção de narrativas. Cabe a nós, como sociedade, questionar e refletir sobre as mensagens e pessoas que deixamos entrar em nossas casas pelo rádio, televisão, celular, e os interesses que elas podem representar. Que o, Marajá, seja. oprimeiro de uma lista longa e extensa de políticos que merecem ver o sol quadrado.
Com o sentimento tardio de justiça feita,
Bob Wilson
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