O Desfiamento
- Jean F.V.Oliveira
- 12 de abr.
- 3 min de leitura
Estávamos reunidos quando aconteceu. Entre família e amigos todos ali sabiam as batalhas que enfrentamos para ser um casal e a alegria reinava porque era a comemoração de um ano juntos. No bolo estava escrito “Parabéns Augusto e Júlio!” e sabíamos em nossos corações que todos ali estavam, verdadeiramente, felizes em comemorar conosco.
Conheci Augusto na festa de final de ano da nossa empresa de construção civil. A Romanus fazia questão de expor que era uma corporação que prezava pela inclusão social das minorias, mas aceitar seu engenheiro chefe e o mais famoso arquiteto da cidade juntos sob seu teto foi um pouco demais para os valores da companhia. Juntos fundamos a Cartagum Construções e em pouco tempo batemos de frente com nossa antiga companhia.
Compramos uma chácara nos arredores de Santa Tereza ES e foi ali que decidimos morar por um tempo enquanto a reforma de nosso apartamento na cidade de Vitória era terminada. Nossa festa de aniversário seguia com churrasco acontecendo à beira da piscina enquanto os shows ao vivo do carnaval no Brasil passavam na televisão da área gourmet. Alguns conversavam e bebiam enquanto outros prestavam atenção em seus celulares e esses últimos foram os primeiros a dar o aviso de algo estranho acontecendo.
Meu coração parou quando a jornalista interrompeu a música para entrar ao vivo da orla de Camburi onde um rasgo no véu do tecido da realidade ameaçava a todos. Sabia exatamente o que aquilo significava: o início do fim.
Comecei a escutar um silvo agudo e seu volume aumentou ao ponto de não escutar mais nada. Minha cabeça parecia estar sendo apertada por um arame farpado e senti como se ela estivesse crescendo. Ajoelhei e senti as mãos de Augusto me segurarem. Foi quando escutei uma voz em minha cabeça que há muito tempo não conversava comigo. “Sinto muito meu companheiro do mundo físico. Chegou a hora! Veio antes do que esperávamos.”
Coloquei minhas mãos no rosto do homem que amava e não pude escutar as palavras que saíram de minha boca, torcendo para que ele as ouvisse.
-Perdão, meu amor. Deveria ter te contado sobre isso…
Um calor intenso começou pelos meus olhos e irradiou por todo meu corpo. Senti minha consciência deixar meu corpo e em um instante estava vendo todos por cima. Vi meu próprio corpo sendo segurado por Augusto e todos espantados olhando em minha direção. O que viam era a forma espiritual de um ser que vivia em mim desde que nasci. Seus cabelos longos e loiros chegavam aos pés, olhos de um azul que não existia nesse plano de existência, um corpo esguio com braços e pernas compridos. Irradiava uma luz por todo o corpo, principalmente de seus olhos.
“Por que estou aqui junto de você?” A pergunta surgiu em minha mente e foi rapidamente respondida.
“Nossas consciências estão juntas e são inseparáveis. Seu corpo é um lar para meu espírito e em retorno meu espírito é um lar para sua mente. Compartilhamos a mesma alma e por isso não existimos separadamente aqui nesse plano.”
Descemos em direção à Augusto e chegamos tão perto de seu rosto que pude sentir o calor de sua respiração.
-Cuide desse invólucro corpóreo que me protegeu por muito tempo. Juro a ti cuidar da consciência dele que habita em mim. - Nossas vozes eram emitidas juntas e ainda outra soava como a soma das duas criando um efeito de reverberação. - Tudo termina com ele.
Voamos dali em direção a cidade de Vitória. E no horizonte podíamos ver que, através do tecido que protegia nosso plano, uma gigantesca cidade de pedras pretas cercada por um domo estava em chamas.
“O que é aquilo?”
“Aquilo, meu companheiro, é a soma da ganância intelectual de um povo que não sabe nem mesmo por onde pisa. Aquilo é o Planar de IN TREVAE finalmente conseguindo o que lutamos por milênios para evitar. Aquilo é o fim do seu mundo.”
Algo terrível e conhecido somente por poucos chega ao nosso plano de existência. E o Planar de IN TREVAE parece estar no centro desse acontecimento. Em “Os contos do Sábio” a verdade sobre o conhecimento científico do lugar mais escuro do universo se revelará. Na esperança que se divirtam em cada território de “Os Planos”.
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