Permita-me envelhecer,
Sem ouvir, Desagrados
Sem ouvir, Velha
Sem impedimentos.
Sem obrigações.
Não estou velha.
Não sou eletroeletrônico
Não sou produto obsoleto,
Não tenho código de barras.
Não sou e nem possuo ponto de descarte
Não estou exposta em gôndolas.
NO ESPELHO, OBSERVO AS MARCA EM MEU ROSTO, DOS ANOS VIVIDOS.
ENVELHECI.
Permita-me envelhecer,
Sem rótulos.
Sem cobranças.
Com cabelos grisalhos
Com rugas e rusgas.
Com caminhar firme e seguro
Permita-me envelhecer,
Com mãos que precisam de apoios.
Com mãos que contam sobre a vida.
Ando descalça na chuva.
Ainda sou quem sou.
Ainda ando por onde quero.
Permita-me envelhecer,
Dançar no meu tempo.
Elevar a perna até a altura que me conforta.
Não quero amores novos,
Já os tive na juventude.
Já os confortei, admirei.
Já vivi, já perdi amor.
Não quero que outro sofra por não ser como eu.
Não quero admirações inúteis.
Compreensão sim.
Quero envelhecer, sabendo que fiz o certo.
Mas que também fiz o errado.
Permita-me envelhecer,
Percorrendo as calçadas, as ruas, os becos.
Nos tropeços, erguer-me
Segurando suas mãos.
Permita-me envelhecer.
Permito-me envelhecer.
Admirando a cidade.
Com a sabedoria que ela trouxe para o meu caminhar.
Permita-me envelhecer.
Permito-me envelhecer.
Com filhos, netos.
No entendimento dessa nova jovem,
Auxiliando-me nos percalços que enfrentarei
Permita-me envelhecer.
Permito-me envelhecer.
Sendo amada, ou não
Sendo compreendida, ou não.
Sendo querida, ou não
Amar dentro do meu entender, do que é AMAR.
O tempo, um companheiro,
A cidade, um refletor,
Nessa jornada.
Permita-me envelhecer,
Permito-me envelhecer.
Permita-me esse contentamento de percorrer essa estrada chamada
Envelhe(SER)
Desafio #82 Folga da caneta
Stela Alves
24/03/2024
Texto lindo! Para nós da geração envelheSENDO…