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Silvia: Coragem, Resistência e Superação

Silvia nasceu em Timon, interior do Maranhão e o dia não foi registrado, porque ela foi deixada dentro de uma caixa de papelão forrada com alguns panos velhos, numa rua deserta, ao pé de uma mangueira. Um rapaz ao passar pelo local, à noite, ao ver algo se mexer naquela caixa, agachou-se e viu a menina acordada, silenciosa, apenas mexendo os braços e as pernas. Ao encontrar o olhar do rapaz, abriu um sorriso como se dissesse: “Me encontrou”.


Imediatamente pegou-a nos braços, olhou para os lados em busca de socorro. Como não encontrou ajuda, foi até a delegacia e entregou ao escrivão de plantão naquele momento. Registrou a ocorrência e deixou a bebê aos cuidados dele. O escrivão, com a criança nos braços, sem habilidade para lidar com aquela situação, pediu ajuda a esposa. Eles alimentaram-na e no dia seguinte entregaram a recém-nascida ao delegado. Ele a levou para o Orfanato, localizado no Centro Histórico de São Luis; A instituição funcionava num casarão antigo e, além de orfanato havia uma escola.


O orfanato, gerido por freiras, abrigava crianças abandonadas e ali ficavam até atingir a maior idade, se não fossem adotadas. A escola atende o público externo juntamente com as órfãs. No orfanato a bebê recebeu o nome de Silvia e seu registro ocorreu no dia 16 de janeiro de 1990.


Uma semana depois um casal, Naiara e Rogério, foi até a instituição em busca de uma criança para adotar. Como é de praxe, fizeram a entrevista com a diretora, explicaram-lhe os motivos da adoção e disseram não haver preferência por sexo e nem cor. O importante seria a empatia pela criança.


A diretora informou da chegada, na semana passada, de uma criança, que pelo tamanho e formação corporal, nasceu há pouco tempo.


— Vocês querem vê-la, antes de lhes mostrar as outras crianças?

— Sim, gostaríamos. - os dois responderam em conjunto.


A diretora pediu licença e desapareceu por uma porta. Pouco tempo depois retornou com a criança nos braços:


— Eis aqui essa lindeza, parece um anjo. É uma menina e foi registrada em nosso livro de entrada com o nome de Silvia.


Naiara pegou-a nos braços, e assim que seus olhares se cruzaram, a bebê abriu um longo sorriso para ela. Ambas ficaram se olhando e os olhos de Naiara começaram a brilhar e logo brotaram lágrimas. Virou-se para o marido e disse:


— Olha, bem, é linda! Pegue-a.


Passou a criança para os braços desajeitados de Rogério, e mais uma vez, o longo sorriso da bebê abriu-se quando os dois se olharam. O casal trocou olhares demoradamente e viraram os rostos simultaneamente para a diretora e falaram ao mesmo tempo:


— Não precisa nos mostrar as outras crianças, poderíamos adotar essa linda menina?


— Claro que sim. Tenho certeza de que vocês e a menina formarão uma linda família.


A diretora passou aos dois a relação dos documentos necessários para formalizar a adoção. Em poucos dias apresentaram comprovações de suas idoneidades morais e condições financeiras para tornar Silvia sua filha.


Concluída a adoção, a menina saiu do orfanato nos braços de Naiara e foi registrada como Silvia Couto Reis. O casal a levou para sua nova casa no bairro Calhau. O imóvel é comum e espaçoso. Na frente há um belo jardim e atrás, um quintal com área suficiente para Silvia crescer e brincar.


O tempo seguiu seu curso normalmente e Silvia se tornou uma bela menina, de convivência agradável, dócil e sua inteligência superava a idade intelectual. Gostava de brincar no quintal e quando aprendeu a ler, tornou-se uma devoradora de livros.

Aprendeu a conviver com a solidão de uma forma muito tranquila.

Estudava numa escola privada famosa, porém isso não a deslumbrava, ao contrário.


Os pais percebiam que não havia nenhuma empolgação com a escola, apesar de estar sempre em destaque pelos ótimos resultados obtidos. Ao completar dez anos, era um domingo de janeiro, ela pediu aos pais como presente de aniversário, a transferissem para uma escola pública perto de sua casa. Rogério inquietou-se com o desejo da filha:


— Aconteceu algo com você na escola, minha filha?


Naiara, ao ver o marido nervoso, falou:


— Não se altere, Rogério. Deixe a Silvia se explicar.


— Não gosto daquela escola, pai. As meninas e os meninos ficam “zoando” de mim. Me chamam de neguinha prosa; puxam meu cabelo; dizem: “volta para África”. Não tenho amigos, lá.


Naiara e Rogério olharam-se preocupados, mas não deixaram transparecer para a filha essa preocupação.


— Vou conversar com a diretora, disse Naiara.


— Não mãe, não quero mais aquela escola. Por favor, me tirem de lá. –  Silvia falou quase chorando.


—Tudo bem, filha. Amanhã vou procurar a diretora da escola estadual para averiguar a possibilidade de transferir você para lá. Você quer ir junto comigo?


— Vou sim, mamãe. – Respondeu com um sorriso de felicidade.

Rogério, fechou a cara e encerrou a conversa:


— Não vou mais me meter nesse assunto. Tratem disso. O importante é você ser feliz, minha filha.


Mais uma mudança importante ocorreu na vida de Silvia. Começou a estudar na escola pública perto de sua casa. Foi bem recebida pela turma e logo conseguiu diversas amigas e amigos, pois sua simpatia contribuiu para isso. Seu ritmo de estudo em casa não alterou, pois isso ela já fazia muito, e isso compensou a deficiência encontrada na nova escola devido à falta de professores.


O tempo seguia seu caminho. e chegou o momento de Silvia entrar para a Universidade. Utilizou a Lei das Cotas Raciais e ingressou na faculdade de engenharia Civil da Universidade Federal do Maranhão, obtendo uma das maiores pontuação no ENEM. O curso foi concluído com louvor, tanto que, ganhou uma bolsa para cursar o mestrado no MIT - Massachussetts Institute of Technology, nos EUA.


Ao retornar para o Brasil, três anos depois, foi imediatamente contratada como engenheira master por uma construtora de grande porte. Em pouco tempo, foi designada para ser diretora da área de gerenciamento, controle de grandes obras e orçamentação. Estavam sob sua subordinação cerca de trinta engenheiros, na maioria homens, atuantes em obras de grande porte, dentro e fora do país. Havia, também, sob seu comando, uma equipe responsável pela elaboração dos orçamentos para as concorrências.


Logo que assumiu o cargo, percebeu uma certa resistência e rejeição pelos subordinados em virtude de ser mulher e negra, a comandar homens brancos. Com a habilidade, simpatia e, principalmente, a competência, esse preconceito dissipou-se num curto espaço de tempo.


Depois de assumir o cargo de diretora, adquiriu um apartamento no bairro Renascer, perto da casa onde residia com seus pais e foi morar sozinha. Aos domingos, impreterivelmente, ia almoçar com eles.


Silvia estava muito feliz no novo endereço, adotou a rotina diária de acordar às cinco horas da manhã, fazer a higiene matinal e um desjejum leve. Vestia uma roupa esportiva e saia correndo através das ruas do bairro até chegar na Litorânea onde continuava a corrida ao longo do calçadão e em seguida retornava para casa. Banhava-se, complementava seu desjejum e às oito horas em ponto já estava acomodada em sua sala. Tratava com sua secretária sobre a agenda e analisava os relatórios no computador.


Fez aniversário de 30 anos no seu novo endereço e era só felicidade, pois ocupava quase todo seu tempo disponível, quando não estava no trabalho, com a arrumação e decoração do apartamento até deixá-lo ao seu gosto.


Desde criança, aprendeu a lidar muito bem com a solidão, porém, sem se dar conta, isso  começou a lhe incomodar e causar sérios danos em seu comportamento e qualidade de vida. Não saia para fazer suas corridas matinais com a mesma frequência; deixou de ser aquela moça alegre e sempre de bom humor; estava cada vez mais pensativa com o semblante tenso. Certo dia, o diretor de RH, Ricardo, com quem conversava muito, chamou-a até a sala dele e lhe perguntou:


— Está acontecendo algo com você, querida amiga?

— Não está acontecendo nada.

— Como nada, Silvia. Você está visivelmente tensa. De mal humor, às vezes respondendo com rispidez aos seus subordinados. Não tem ido mais até à copa tomar cafezinho comigo.

— Não há nenhum problema. Não se preocupe.

— Desculpe, minha amiga, mas você não está bem. Preciso saber o que está acontecendo para poder lhe oferecer ajuda. Nem deveria falar, mas outro dia vieram três de seus subordinados compartilhar comigo sua mudança na forma de tratar a equipe.

— De que forma? O que eles disseram? – Falou exasperada.

— Ultimamente apresenta-se nervosa e muitas vezes se torna áspera quando se dirige à equipe.

— Isso é exagero. Foi excesso de mimo da minha parte.

— Nada disso. Até a Josi que costuma sair com você,  confidenciou comigo suas recusas em ir ao cinema com ela. Você alega cansaço e ultimamente até rejeita os telefonemas dela.

— Ricardo, estou preocupada com três grandes concorrências que vamos participar.

— Não, minha querida, isso não é desculpa, pois você já está acostumada com esses desafios. Isso é rotineiro para você. Há outro motivo e você não quer falar.

— Meu amigo, deveríamos ter nascido com um interruptor no qual pudéssemos desliga-lo em definitivo. Estou cansada dessa vida de merda que tenho.


Ricardo surpreendeu-se com esse desabafo, mas manteve a serenidade. Permaneceu com o olhar fixo nela, pensou por um longo tempo a fim de escolher as palavras certas, e disse:


— Silvia, o que você disse é muito grave. Traduzindo em outras palavras, você quis se referir a suicídio.

— Nada disso, Ricardo. É exagero seu.

— Silvia, não somos robôs para possuir botão de liga e desliga.

— Ah! Esquece o que falei.

— Querida amiga, você cresceu num ambiente cercado de amor, carinho, afeto e muita atenção de seus pais e eles devem ser pessoas maravilhosas. Você jamais sofreu por falta de atenção e maus tratos pela sua família.

— Isso não posso negar.

— E tem mais. Relaciona-se de forma primorosa com seus amigos e subordinados, portanto não há motivos para você não se sentir valorizada e integrada à equipe liderada por você.

— É uma turma excelente.

— Então, Silvia, a causa de toda essa revolta e pensamentos negativos, não é o excesso de trabalho e muito menos falta de amor. A falta de companhia para compartilhar intimidades e confidências, fez surgir em você essa tristeza excessiva, pesada e insuportável.

— Nossa, Ricardo! Quanto drama!

— Engano seu. Em momentos difíceis ou de tristezas, precisamos de amigos verdadeiros para nos escutar sem julgamentos, porque nessas horas de fragilidade, essas pessoas atuam como barreira de proteção.

— Proteger do que, Ricardo?

— Dessa depressão pela qual está passando. A vida quando se torna um fardo, o suicídio não extrairá esse peso e nem representará alívio ou libertação. Ao contrário, será um erro gravíssimo e de grandes proporções.

— Não falei em suicídio, não exagere.

— Sem se dar conta, você desejou aliviar suas dores com um simples botão de desligar como se fosse um bico de luz. Provavelmente por ter trilhado o caminho das ciências exatas, acha que somos pura matéria e que, ao destruirmos nosso corpo, eliminaremos definitivamente todos os problemas e deixaremos de sofrer.

Silvia sensibilizou-se com as palavras de Ricardo. Ele, ao perceber o efeito de sua fala, continuou:

— É sempre bom fazermos uma reflexão para entendermos um pouco quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Você me entendeu, querida amiga, concluiu Ricardo, sentando-se em uma cadeira ao lado dela.

Silvia, com os olhos lacrimejantes, olhou para ele e falou com a voz engasgada:

— Entendi, amigo. Muito obrigada. Você é um anjo que apareceu em minha vida.


Ricardo levantou-se, foi até sua mesa, pegou em uma das gavetas o livro do jornalista André Trigueiro, Viver é a Melhor Opção, e disse:


— Não sei o que você está lendo ultimamente, mas sei do quanto você é uma devoradora de livros. Leve este e leia-o, tenho certeza de que esta obra lhe servirá de alerta pelo que está passando.


Silvia pegou o livro e já estava se dirigindo à porta de saída quando Ricardo a chamou:


— Silvia, além da leitura desse livro, gostaria de lhe fazer outro pedido. Não sei se você segue alguma religião, mas isso não tem a menor importância, porque meu pedido não está relacionado com nenhuma religião. Ficaria muito feliz se você me fizesse companhia para assistirmos uma palestra do autor deste livro que ocorrerá no Centro Espírita no próximo sábado às 16 horas. Posso contar com sua companhia? O tema da palestra será baseado nesta obra.


— Tudo bem, assentiu Silvia. Irei com prazer. Gostei de sua sugestão. Vou ler o livro hoje, assim entenderei melhor a palestra.


— Ótimo, passo na sua casa as 15:30 h, para chegarmos o quanto antes a fim de conseguirmos um bom lugar, porque essa palestra é muito concorrida.

Na saída do evento, foram jantar no restaurante na avenida Litorânea.


— O que você achou da palestra?


— Ótima, interessante e o tema é novo para mim. Desconhecia completamente a gravidade desse assunto sobre suicídio. Realmente é uma questão de saúde pública. É um problema grave e silencioso, pouco divulgado e praticamente sem campanha de combate a esse mal.


— Domingo, às 16 horas, vou ao centro espírita, aliás, faço isso todos os domingos. Você gostaria de me fazer companhia amanhã? Normalmente assistimos palestras sobre assuntos espíritas, focado em algum tema específico e atual.


— Aceito o convite, Ricardo. Desconheço totalmente essa doutrina e estou precisando ouvir sobre algo diferente, porque de tanto lidar com orçamentos, custos, lucros, cronogramas, metas, etc., me desumanizei um pouco.


— Fico feliz por ter concordado. Você gostará.


— Amigo, agora sou eu quem vai lhe fazer um convite: Todos os domingos vou almoçar com meus pais, gostaria de ter sua companhia nesse almoço. Não avisarei mamãe, será uma surpresa. Depois do almoço, ficaremos lá até a hora de irmos para a palestra.


— Você tem certeza de que quer me levar para esse almoço?


— Claro, eles irão adorar você, com certeza absoluta. Você passa em casa às dez horas para me pegar, assim teremos mais tempo para conversarmos. Você gostará deles, porque são maravilhosos.


— Não tenho a menor dúvida. Combinado.


No domingo, pontualmente, Ricardo chegou ao prédio de Silvia que já o esperava na frente. Ao chegarem na casa dos pais dela, foram recebidos com naturalidade, por Rogério, seu pai. Cumprimentou o rapaz calorosamente e chamou sua esposa para receber a nova companhia de Silvia. Cumprimentaram-se como de praxe e Rogério levou Ricardo para sala, enquanto, Silvia acompanhou sua mãe até a cozinha para ajudá-la nos preparativos do almoço. Na cozinha, Naiara disse:


— Namorado novo, minha filha?

— Não, mamãe, é apenas um amigo. Trabalhamos na mesma empresa.

— Observei que esse rapaz gosta de você. Percebi pelos olhares dirigidos a você.


Silvia preferiu não comentar nada para não dar rédeas à imaginação de sua mãe, mas ficou pensativa nas palavras dela. O almoço transcorreu em clima de conversa amenas, piadas, principalmente porque Naiara e Rogério estavam felizes em ver a filha bastante mudada em relação ao domingo anterior, quando almoçou calada, de cabeça baixa, demonstrando preocupação e deixou os pais apreensivos com o comportamento da filha. Neste almoço, viram a filha alegre, leve, brincalhona e amorosa com a mãe e o pai.


Na saída da palestra, Ricardo convidou Silvia para jantar em algum restaurante de preferência dela, mas ela optou em ir para casa fazer um lanche, depois dormir, pois o dia foi muito intenso e estava cansada. Ao chegarem em frente ao prédio de Silvia, o rapaz desligou o carro e quando ia começar a falar, ela colocou o dedo na frente de seus lábios e disse:


— Muito obrigada Ricardo, você é um anjo que surgiu no meu caminho. Debruçou-se e lhe beijou rapidamente na boca, saiu rápida do carro e entrou no seu prédio. Ricardo, surpreso e estático não conseguiu reagir tempestivamente, quando se deu conta, Silvia já havia desaparecido no interior do prédio. Ligou o carro e seguiu para sua casa.


No dia seguinte na empresa, Silvia surpreendeu sua equipe, pois a mudança no comportamento foi visível. Voltou a ser aquela líder que já estavam acostumados a conviver diariamente. Na hora do almoço telefonou para Josi e a convidou-a para almoçar. Durante todo o dia Silvia evitou falar com Ricardo, sentia-se envergonhada pelo que fez ao se despedir no dia anterior, mas ao término do expediente, seu amigo foi até a sala dela e convidou-a para jantar:


— Por favor não recuse, preciso falar com você.


— Tudo bem, Ricardo, vamos jantar. Preciso falar com você, também.

No restaurante Silvia começou a falar, mas Ricardo pediu para ser o primeiro:


— Silvia, há muito tempo que não paro de pensar em você, não como simples amiga, mas como alguém para compartilhar a vida comigo. Que seja minha companheira para todos os momentos bons ou ruins. Confesso meu receio de confidenciar isso, pois temia sua rejeição e nossa amizade acabasse. Entretanto, os acontecimentos dos últimos dias estimularam-me a externar meu sentimento. Será que poderíamos ser mais do que amigos?


— Ricardo, você me fez esquecer do que ia falar, porque fui tomada de emoção. Você leu meus pensamentos, porque há muito tempo sinto atração por você.

— Você está falando sério, ou só para me agradar?

— Claro que estou. Não iria brincar com este assunto.

— Por que não percebi isso?

— Porque meu preconceito me fez esconder isso de você. Tinha receio de você não querer namorar uma negra.

— Oh! Silvia, como você pôde pensar assim de mim?

— Desculpe minha estupidez. Sinto vergonha dessa minha irracionalidade. Mas nesse fim de semana você fez dissipar todos esses pensamentos ruins. Peço-lhe mil desculpas.


Quando Silvia concluiu sua fala, Ricardo não falou nada, levantou-se, debruçou sobre a mesa e beijou-a na boca.


— Obrigado por me aceitar como seu companheiro.


A partir desse jantar, os dois concretizaram o relacionamento amoroso tão desejado por eles. Ricardo mudou-se para o apartamento de Silvia. Ela manteve a rotina de corridas ao amanhecer, mas Ricardo não a acompanhava, preferia dormir mais um pouco. Num desses dias, Silvia saiu correndo pelo caminho de sempre e ao atravessar a avenida Litorânea, antes de chegar ao calçadão, distraída, foi atropelada por um veículo que trafegava no mesmo instante. A colisão foi forte e a jogou alguns metros à frente. Com a queda brusca, sofreu uma leve fratura na perda direita, mas bateu fortemente a cabeça no asfalto e desmaiou. O motorista prestou socorro e Silvia foi levada de ambulância para o hospital Sarah. Recebeu o atendimento de urgência e em seguida internada na UTI, pois estava em coma devido ao choque na cabeça. Naiara que estava de plantão, foi rapidamente ao encontro da filha e, como era uma profissional de saúde experiente, ficou nervosa, mas não se desesperou. Telefonou para o marido e avisou do acidente. Depois avisou ao Ricardo. Ao ver a companheira naquela situação, não saiu mais de lá. Três dias depois, como o estado de Silvia manteve-se estável e, mesmo desacordada, não apresentava gravidade, então foi transferida para um quarto. Passados mais três dias, Silvia começou a reagir, mexendo levemente a cabeça e os braços. Em seguida abriu os olhos lentamente e, com a visão turva, divisou um vulto olhando-a sem identificar no primeiro momento, porém quando a vista foi clareando reconheceu o companheiro que estava sorrindo. Ela sorriu também e conseguiu dizer:


— Desculpe, me amor.


— Você não tem que me pedir desculpa meu bem. Fico feliz por você ter recuperado a lucidez. Como está se sentindo, tem alguma dor?


— Não, não me dói nada e me lembro de tudo que aconteceu. Estava distraída com meus pensamentos e não olhei para os dois lados como deveria.


— No que você estava pensando Ricardo.


— Em você.


— Em mim? Sobre o que pensava?


— Você quer se casar comigo?


— O que Silvia? Você está me pedindo em casamento?

— Estou, por que? A mulher não pode pedir um homem em casamento? Ou o pedido tem sempre que partir dele?


Ricardo caiu na gargalhada e debruçou-se sobre ela para beija-la.


— Claro que aceito, meu amor. Fico feliz por isso. Cadê o anel?

1 comentário


Stela Alves
22 de ago.

Assim segue o mundo.

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