Da minha janela vejo
um pé de limão cujo cheiro
me espeta ao por ele passar.
Vejo também
um pé de acerola.
Um belo quadro sem moldura
de um fundo verde
salpicado de frutinhas vermelhas
e suculentas
que agradam tanto ao meu paladar
quanto a todos os meus demais sentidos.
O gato que, por vezes, encontro
dormindo ao pé dos meus pés de fruta
me dá saudade de um tempo outro
em que meu quintal comportava
cajus, siriguelas,acerolas, goiabas, limões
Em que havia não só um gato
mas oito.
E o chão era de terra batida
e levantava poeira quando de cima
dos altos galhos
das altas árvores
eu pulava.
E nada doía.
Ao pé dos meus antigos pés de fruta
fazíamos fogueira para queimar as
castanhas
que o caju nos dava.
Era um evento.
Lembro bem das gargalhadas
marcadas
de tantas pessoas amadas
que hoje já não vejo.
O gato, branco, cinza e preto,
que me visita,
pra quem agora eu olho
marejada de saudade,
preguiçosamente
entreabre os olhos
e neles eu já vejo não o seu
mas o olhar de gente
antiga
de quem já não tenho notícias.
Atrás do pé de limão,
bem atrás,
há um prédio.
Vejo dentro dele,
pela janela cuja cortina foi deixada aberta,
que alguém fez anos.
Os balões foram deixados em cima de
sua mesa.
A cada dia que passa,
olho os balões,
brancos, flutuantes, amarrados
por um fio também branco,
presos a um peso
em cima da mesa
de alguém que fez anos e,
amado que foi,
recebeu festa.
Esse alguém não mais voltou.
O prédio fechou.
O balão
l
e
n
t
a
m
e
n
t
e
foi murchando.
E murchando.
Hoje,
quando eu, perdida
nesses pensamentos de saudade,
me perco nos olhos do gato
e no cheiro de limão e no deleite
das acerolas,
que me levam a tantos lugares outros
que hoje são só lembranças,
Hoje, notei que os balões,
amarelados de poeira,
murcharam no chão.
De Quixeramobim para o mundo, Renata Mene é uma das participantes do projeto É DIA DE ESCREVER.
Ela faz parte do grupo de Negritudes e você pode seguí-la no instagram @arenataque.
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