Pedrinho levanta muito cedo. Depois que o acorda, sua mãe faz e põe sua merenda na lancheira, verifica se as tarefas escolares estão todas feitas, e colocada tudo em sua mochila de Unicórnio. Ele ama o personagem que estampa sua mochila, seu estojo, sua lancheira. Sente a magia do que o animal representa.
A mãe o apressa, a van já buzina do lado de fora. Um beijo de bom dia os separa, e Pedrinho entra na van, onde outras crianças, ao vê-lo com sua mochila, começam a rir. Todos os dias, o trajeto inteiro é realizado com chacotas, que Pedrinho se acostumou a não escutar. Sentado, seus olhos voam para outros lugares que os colegas não conhecem.
A escola fica a cerca de 50 km das casas que a van visita diariamente, levando e trazendo as crianças. O lugar é afastado do pequeno município de Pequena Escócia, que tem a agricultura familiar como principal atividade. O município não tem o movimento das grandes cidades, mas não tem, também, o cenário para grandes sonhos. Para Pedrinho, nada disso impede de ter seus grandes sonhos.
E Pedrinho sonha alto. Como o personagem de sua mochila, uma figura lendária de um cavalo branco, com pelagem macia, um único chifre em forma de espiral na testa, crina grande e ondulada, Pedrinho se vê envolvido nas nuvens de sua imaginação. Ele quer conhecer mais do que aquele lugar. Por isso, não falta às aulas. Tem sede de conhecimento. Tem ânsia de voar para o mundo, aquele que vê nos livros da pequena biblioteca e no único computador da escola. Ali ele se sente presente.
Pedrinho não se incomoda com os comentários dos colegas, que acham que sua mochila é da irmã que ele sequer tem. Não sabem que recebeu todo o material de doação de uma mãe que perdeu a filha, de quem Pedrinho era o melhor amigo. Não perguntam por que carrega o unicórnio com tanto amor e admiração. Preferem zoar dele e dos seus sonhos.
O unicórnio que ele vê tem asas para ir aonde quiser. Pode brincar nas nuvens e olhar o arco-íris de perto. Pode se transportar durante uma aula chata, para o reino das brincadeiras, onde se une a animais que não enchem o saco pelas diferenças.
Com o unicórnio, Pedrinho não se sente só. Por não ter irmãos, a mãe pode se dedicar mais a ele, dividindo o pouco que eles têm, sem sentir falta de um pai que nunca conheceu. O unicórnio é o amigo que lhe dá forças quando, alvo de brincadeiras mais pesadas, corre para o banheiro da escola e acomoda a mochila em sua cabeça, descansando e sonhando que crescerá e se tornará respeitado.
A inocência de Pedrinho combina com a pureza da estampa que motiva tantas brincadeiras. Mas ele sabe que tem a criatividade e a magia que precisa para ir às aulas, ler, aprender. Com seu estojo de lápis coloridos – com a estampa do amigo como companhia para as provas – Pedrinho não teme as perguntas a responder. E, além das excelentes notas, tudo o que aprende ele leva para casa. Divide com a mãe a sorte de ter o conhecimento que a escola lhe proporciona.
Com o unicórnio, Pedrinho enfrenta o que tiver de enfrentar, sem temer o que os colegas gostam de zombar. Seu amigo o tranquiliza, o protege, e lhe traz a confiança de se impor com tranquilidade. Não liga para o que parece: enxerga além do que se mostra. E, assim, consegue os verdadeiros amigos que quer levar para a vida. Aquela em que se vê livre para ser e ter o que quiser. Independente de rótulos, estampas externas e preconceitos de quem não entende que a educação traz respeito e liberdade.
Pedrinho sabe que é um super-herói da realidade. O que enfrenta provas diárias sem perder a vontade de crescer. O que vai à escola para aprender e ensinar a pureza que carrega no coração.
Goretti Giaquinto
Desafios #105 a 108
Tema: Dia Nacional do Livro
1.Crie um conto infantil que traga elementos de fantasia e se passe em ambiente escolar.
2. O foco do texto está no incentivo à leitura, frequência escolar e semana de provas.
3. Mínimo 1.500 caracteres.
4. Texto deve ser entregue até o dia 18 de abril.
O respeito deve ser incentivado desde a infância. Os pais e a escola devem acompanhar, juntos, o desenvolvimento e a socialização da criança.
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