O Reinado da Escrita Estava no Meu Ventre
- Thata Alves
- há 4 dias
- 3 min de leitura
Dentro da barriga ibejis, no destino desses ibejis, nascerem ogãs.
Olá bênçãos!
Se você não entendeu até aqui, está tudo bem, na era onde os textos são elaborados por sites e inteligências artificiais, aquilo que é rico em cultura muitas vezes não se traduz nessas tecnologias. Mas a palavra nunca será cringe.
Ficamos tão familiarizados com palavras estrangeiras, como self, story, live, que não exercitamos aprender os idiomas tantos dos povos originários do nosso país e de nossos descendentes. Não entendo o porque brasileiro tem orgulho desde a época da escola de ostentar nome alemão, mas não tem o mesmo sentimento pelo nome pataxó.
O que quis comunicar na primeira frase desse texto, é que dentro do meu ventre, nasceram gêmeos, e com eles o dom de estar atento ao outro, como também a musicalidade.

O Sarau da Ponte pra Cá, só nasceu na necessidade de existir no mundo, sendo mãe.
Porque minha maternidade não pode ser uma fragilidade social, onde não se dialoga sobre as esquivas e moralismos, quando o assunto é maternagem.
Eu mesma só tive a compressão do quanto a maternidade era potente, pela filosofia africana, nas ruas de São Paulo, mais precisamente, na Barão de Itapetininga. Um grupo de amigos de, vários países africanos, começaram a reverenciar a mim quando eu abri a boca e disse que era mãe solo de gêmeos.
Ali, pela primeira vez, enxerguei meu ventre como um reinado. Eles me ensinaram que filhos gêmeos na África são a maior benção que uma família pode ter. E em algumas culturas o outro gemelar é sacrificado para dividir a benção com a sua comunidade.
Quando nascem gêmeos, nasce esperança, pois a prosperidade também vem junto.
Recebi vários presentes filosóficos e culturais deles nessa minha passagem que era objetiva, visitar um amigo e comprar Ankara para confecção de umas peças.
Houveram também presentes de tecidos, esculturas, máscaras, amuletos, fruta, peixe, e um balaio, com todas essas preciosidades dentro e incenso. Eu não sabia como receber aquilo, recusei no primeiro momento, achei um exagero, mas eles me ensinaram olhando para mim, com seus olhos azeviche, dizendo:
- Se você não aceitar é má sorte pra nós. Não se foge da realeza!
Estremecida, embasbacada, e ainda incrédula, recebi o presente e saí daquele encontro arrebatada. Não tinha buzinas, não tinha trânsito, nem ambulantes fazendo suas vendas. Não ouvia os transeuntes, nem os irmãos pedintes, era só eu e a nova realidade a partir de África, era só eu e a força desse ventre!
Nasce, uma nova mulher, nasce um sarau, e dessas sementes se enraízam um livro, feito escrito por crianças de 5 anos, se tornando autores, antes da alfabetização.
Sim porque a oralidade também é palavra.
A família julgou bem viu, não foi uma maternidade tranquila ou dos sonhos. A minha liberdade em não deixar de ser mulher sendo mãe, não querendo, enfrentou muitas pessoas.

Mas com a força que a maternidade me trouxe, fez com que eu dizimasse todo e qualquer julgamento sobre minha maternidade, afinal somos nós (quando queremos), quem fabricamos o coração, nenhuma outra tecnologia o faz…
Ei mamãe, não deixe nunca adormecer a mulher dentro de você!
Texto: Thata Alves
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Acompanho não é de hoje estes textos e a Thata Alves. História de luta, persistência, resistência, resiliência, mas também de muita arte, textos, ensinamentos e contribuição para acena literária do país, e principalmente da zona sul de São Paulo. Viva Thata Alves! Viva o Sarau da Ponte Pra Cá.
Brabaaaa demais! Bom te ter por aqui.
Sempre bom te receber em casa, Thata Alves