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O Último Herói, Adriano "O Imperador"

Foto do escritor: Bob WilsonBob Wilson

Caros leitores e leitoras que acompanham minhas canetadas esportivas.


É tempo de Copa América! É tempo de seleção brasileira masculina de futebol! É tempo de decepção.




Na última noite de sábado, a seleção brasileira foi eliminada pela seleção do Uruguai na fase de quartas de final da Copa América.

 

Crescido em família luso-italiana-nordestina, o futebol em casa sempre esteve à mesa. Em casa, minha família até o final dos anos 90 era majoritariamente de palmeirenses e torcedores do Leão do Canindé, a Portuguesa. Precisou de dois tios FDP's Corinthianos, para trazer mais um time para a mesa.


Futebol tá naquela tríade "Política - Futebol - Religião", que (dizem que) não se discute. Cresci em um ambiente #Prafrentex, e tudo se discute por aqui. E futebol, abusando do clichê, nunca é só sobre futebol.  Vivi, vivo e sei da potência do caracter transformador que um vestiário (leia-se, a cultura do futebol),  tem na vida de um jovem. Futebol é música, é cinema, é literatura, é gozo, tesão, política, dor, tristeza, decepção, é "sevirologia" na bola e pra vida. Isso, e mais um tanto de coisas, é o tal do futebol!


Escrevo hoje sobre como o futebol tem o poder de transformar qualquer um em um herói, mas poucos estão prontos para o papel. 


Adriano Leite Ribeiro (Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 1982). Nome comum. Contemporâneo de todos nós. O último herói de uma nação que ama o futebol.

Por vezes, é só no futebol que o povo brasileiro encontra a dose certa de alegria e de dor para equilibrar o dia-a-dia. Adriano, assim como Pelé, Garrincha, Vavá, Didi, Rivelino, Zico, Bebeto, Romário, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno e não posso deixar de citar Sissi, Cristiane, Marta, Formiga, Érika, e tantos e tantas outras que não vou citar porque já acho que fui claro demais com tantos nomes, são pessoas que com suas histórias e trajetórias evoluem, inspiram e dão um norte para um povo.


Adriano, "O Imperador", é mais um destes nomes que inicialmente nos laçam pela nostalgia e nos carregam para um tempo onde nossos mais velhos, amigos e amigas, além de tantos e tantas que aqui ainda estão, dividíamos (e ainda dividimos), sem saber, a carreira de heróis e heroínas. Adriano, foi o último deles (no que se refere a seleção masculina). Um nome que evoca memórias de glórias, mas também por um enredo que nos provoca reflexões para fora das 4 linhas do campo. Família, paternidade, dom, pressão, amizade, dinheiro, luxo, favela…tudo usado a favor e contra nosso último herói. Dores, traumas, conquistas e a morte moldaram sua genialidade em capo e sua personalidade.


Heróis, precisam tomar cuidado. Não se pode tentar ser um Deus ou uma Deusa. Assim, ou você vira facista, ou vira comédia que faz mais comercial e dancinha no Tik Tok do que cumpre seu ofício (no caso aqui, marcar gol e trazer o hexa). 


Uma história do Adriano que sempre me emocionou e mostrou que o cara era o cara mesmo, foi quando ele volta do Parma para a Internacional de Milão e começa a arregaçar. Gol atrás de gol. Sempre aquele monstro viril, forte, certeiro, mortal, em campo. De repente, ele repara que em algumas jogadas, ou quando ele marcava um gol, a torcida começava a gritar e cantar sempre uma canção que dizia, que ele era um "Imperador". Levou alguns jogos para ele perceber que era com ele. Ele, ainda sem entender, vai falar com a assessora de imprensa do time, que pergunta pra ele "É pra você! Você não entende?". Dando, no meu entendimento com base em centenas de vídeos que assisto dele e de outros jogadores (compulsivamente e preocupantemente às vezes, eu sei!), que "como assim cara, você tá arregaçando e acha que é pra quem esse grito das arquibancadas". 


Esta história sempre me mostrou um cara que não pede a coroa, ele vai lá e mostra que merece. Luta. Com todas as estatísticas contra, ele luta, e vence. Aliás, nunca é só futebol, e nunca é só um nome. Ele, o pai dele, sua mãe e seus amigos da Vila Cruzeiro/RJ.


Um herói trágico dos campos de futebol, sua história é um conto épico que mistura talento, dor, e uma ligação inquebrável com o pai e o povo.


Adriano não apenas jogava futebol; ele carregava o peso dos sonhos de uma favela inteira nas costas. Sua relação com o pai, Almir Leite Ribeiro, era a base de sua existência. Almir, era o homem que o incentivava a cada passo, a cada gol, que estava presente em cada vitória e em cada derrota. Almir, não era só pai, era uma referência, um mentor e o seu maior fã. 


“Meu pai sempre me dizia que a humildade e o respeito eram mais importantes do que qualquer título”. - Adriano.

Mas em 2004, a dança dos dias que não para, tirou o Seu Almir, para dançar. Sempre cruel e irônico, o destino decidiu testar Adriano. Almir morreu, e com ele, levou parte do coração do jogador.


“Quando meu pai morreu, o futebol perdeu a graça para mim”. -  Admitiu, Adriano.

E assim, vemos o Imperador, começar um lento e doloroso período. Adriano, nesta altura já era campeão da Copa América (2004) com aquele gol inesquecível contra a Argentina, gol sofrido, aos 47m40s do segundo tempo, empatando o jogo em 2x2 e levando a final para os penaltis, e da Copa das confederações de (2005), sendo o artilheiro e eleito melhor jogador nas duas competições. Adriano nesta década foi 4x campeão do campeonato italiano, 2x do brasileiro, 2x da super copa da Itália, entre outros títulos de menor expressão e prêmios individuais.    





Todo herói tem sua criptônita. Sem sua base e referência, Adriano, que vinha brilhando e bailando pelos gramados europeus, especialmente na Inter de Milão, começou a desmoronar. A depressão e a saudade o levaram de volta ao Brasil, de volta à favela. Para muitos, foi um choque. Eu, sinceramente, sempre entendi. Quantos atletas hoje em dia relatam a pressão e a depressão por ter que performar em alto nível o tempo todo por jogar por sua família, parentes, sua comunidade, se tornar referência e único sustento para vários destes?

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