Sou um coelhinho de Páscoa desastrado. Fui ajudante de Papai Noel, mas fui destituído porque me enrolava nas entregas. Como ovos de Páscoa são parecidos, achei que ia ser fácil.
A entrevista para o cargo foi exigida, meu currículo era desastrado. Mesmo sendo um trabalho de um dia, há toda uma preparação anterior, por conta do patrocínio das empresas que produzem os ovos — explicação dada.
As crianças estão exigentes, não basta ser um ovo de chocolate. Não pode ser qualquer chocolate. E o meio não pode mais ser oco. Fala sério! Essa criançada está cada vez mais exigente! Desisti de ser ajudante do papai Noel exatamente por isso: cada pedido estranho, birra quando o pedido não era atendido (mesmo que nos virássemos pra chegar o mais próximo possível… com similares).
Se tem uma coisa que não aguento é birra. Imagine se a coelhada tivesse birra, com tanto irmão dando sopa era facinho ser despejado de casa. Além de birra, não sou fã de disputa. Não que tenha medo. Apenas, quando vejo grande concorrência, desisto fácil. Coisa de coelho que nasce aos montes de uma vez só.
Lá vou eu pra entrevista de emprego para a Páscoa. Cheguei ao local pontualmente. Legal, um lugar simples, mas cheiroso. O cheiro de chocolate que vicia. Já gostei. Iria dar tudo de mim pra conseguir o trampo.
Assinei um papel e peguei o que me disseram pra pegar.
— O que é isso? — perguntei pro coelho que parecia o maioral.
— Você quer o emprego ou não? — foi a resposta. Um idiota, pensei.
Todos estavam com o mesmo documento na mão. Nos entreolhamos, sem entender nadinha. Já comecei a farejar encrenca. Meu nariz coçou, sinal que não ia ser tão fácil. Pior pra eles, se não me quisessem eu não ia ficar triste. Emprego não é difícil, os coelhos são mimosos e eu logo seria adotado por algum pai culpado por não dar atenção ao filho birrento. Garantiria cenoura pro resto da vida, e muito carinho.
Olhei pros lados e vi os colegas lendo o tal papel. Comecei a ler, também. Instruções, dizia o papel. Pra ter o emprego, precisaríamos provar competência prévia. Ridículo! Olhei de novo, tentando me concentrar no que seriam tais instruções.
Palhaçada! Copiaram aquela história de trilha pra procurar ovos de Páscoa. Ridículo, isso os pais fazem com os filhos, pra enrolar. Eles põem vários ovos pequenos — devido aos preços absurdos — e a garotada se diverte na procura.
Olhei de novo, tentando falar entender qual a intenção por trás dessas instruções prolixas. A trilha teria ovos escondidos. Cada ovo achado tinha dicas pra encontrar um próximo — não necessariamente na continuidade da trilha. E a trilha... esse era o problema. Tinha um formato irregular, muitas árvores, muito mato — onde dava pra esconder fácil, fácil, até um leopardo. Leopardos comem coelhos... E se...? Podia ser uma armadilha, pensei.
E não era só isso. Em cada ovo, havia uma instrução específica. Uma espécie de teste: tempo mínimo mínimos corrida de alguns metros, uma altura mínima pra saltar, um peso mínimo pra levantar, outro pra... Parei de ler. Desnecessário, tudo isso. Que coelho precisa correr, saltar, pular, arremessar algo à distância? Coelho de Páscoa é de chocolate. Com esse calor, tem que entregar e comer rapidamente.
Pra que tanta frescura numa simples seleção de coelhos de Páscoa? Eu, hein... definitivamente, tô fora. Os coelhos dispostos que briguem pelo emprego.
Vou procurar um local, ainda dá tempo pra ser adotado, virar o pet da Páscoa, ou melhor ... da casa!
Goretti Giaquinto
Desafio #87 de 365
Tema: Coelhinho se F*$&
1. O coelhinho da Páscoa precisa encontrar e entregar três ovos que ainda faltam, antes do fim da Páscoa
2. Cada ovo tem um desafio diferente que o coelhinho precisa superar para consegui-lo (escreva sobre eles)
3. Mínimo 800 caracteres.
4. O foco do desafio está na construção dos desafios que o coelhinho vai enfrentar.
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