Bom dia, chefa!
Espero que esteja bem,
Estou escrevendo para avisar que não poderei comparecer hoje ao trabalho por motivos de: Revolução da classe trabalhadora.
Sabe o que é, hoje eu acordei e estava saindo no horário de sempre (7h20), mas estava um calor de 30 graus na rua! Então torci para o ônibus vir rápido, a ideia do ar condicionado já me deixou toda feliz.
Chegou o ônibus: Superlotado. Subi e o motorista já foi logo gritando
— Olha que o ar tá quebrado, se quiser vai ter que ir no próximo.
Mas eu sou muito determinada, você sabe. Mergulhei naquela massa de corpos na cara e coragem e aguentei firme até a estação de metrô.
Acho que quase perdi a consciência umas duas vezes, não lembro muito bem. Quando pisei no terminal fiquei desapontada de ver as escadas rolantes quebradas. Lá vai eu, suada, descer aqueles vinte e tantos lances de escada normal. Os joelhos chegaram na plataforma como? Pedindo arrego.
Nisso, avistei uma movimentação suspeita perto dos vagões. Tinha duas pessoas brigando no meio da plataforma, vai saber o motivo. E embora, eu pensei que poderia ter sido bem pior, não deixei de ficar injuriada com a situação.
Entrei no metrô (agora sim, com ar condicionado) e fui em pé até a baldeação do trem.
Foi chegando lá que o verdadeiro inferno começou mesmo:
Essa linha esmeralda não tem um pingo de consideração com a gente. Desligaram as escadas rolantes para diminuir o fluxo. Tive que subir três lances de escada, igual gado indo para o abate: Em linha reta e de cabeça baixa.
Quando eu finalmente cheguei na plataforma de trem, fui recebida com a péssima noticia de que estavam operando com velocidade reduzida por conta dessa tal “falha eletrica”. Ainda por cima tinha gente se pendurando nas vias por falta de espaço, e se empurrando toda vez que as portas abriam.
Um dos funcionários do metrô estava gritando instruções com um megafone e apontando direções para seguir.
— Senhores passageiros, para uma viagem mais confortável, por favor busquem as laterais da plataforma. Lá os vagões são mais vazios.
Porra nenhuma de vagão mais vazio. Ali foi meu limite. Arranquei o megafone dele e comecei uma revolução do proletariado contra a negligência estatal em relação as condições do transporte público.
Era para ser só um momento de crise histérico-nervosa, mas eu não consegui calar a boca. Acontece que as pessoas me levaram a sério demais, e agora estou aqui na Paulista, em frente ao Masp, liderando uma passeata com mais de vinte mil pessoas em busca de melhores condições de trabalho.
Inclusive, se ligar agora no canal 7 vai me ver acenando para a câmera.
Estão me chamando de nova grande líder revolucionária (mesmo eu não sabendo exatamente o que isso significa). E o Estadão de São Paulo quer uma entrevista comigo na próxima segunda-feira.
Diante de tudo isso, considero inviável comparecer ao trabalho por alguns dias. Lamento muito por esse imprevisto. Mas ó, quando eu voltar resolvo aquela reunião com o Financeiro. Pra cima deles, equipe!
Um ótimo sextoouu e bom final de semana.
Att,
Bee
Analista-chefe de alguma coisa importante
Empresa mais importante ainda
Oye! Se chegou até aqui imagino que tenha lido até o final.
Fiquei na dúvida se publicava esse texto para o desafio cinco, porque acho que isso nunca seria um email real que um chefe receberia >x<
Mas eu gostei bastante do resultado final, então aqui está.
Obrigada por lerem, e até a próxima <3
Acho até que pode ter acontecido...😉😉
Gentemm me vi nesse sufoco, onibus lotado, sem ar condiionado, quebrado, janelas trancadas. Qto sofremos para ganhar a aposentadoria.
🤣🤣🤣🤣🤣ri muito com a maneira que vc descreveu seu infortúnio! Se eu fosse sua chefe te contratava como gerente operacional ! Líder nata!!