O termômetro marcava 42°, mas a sensação térmica era de 48°, estava exausta, culpa da mudança climática. Havia entrado em todas as lojas da cidade e as respostas eram as mesmas: não estamos contratando nesta temporada.
Em casa a dispensa quase vazia, da reserva guardada, apenas o valor para cobrir o aluguel, a conta de água e a de luz. Sorte que com a separação herdei as 5 crianças, as 6 galinhas e o peru que por crescer com elas, tornou-se um animal de estimação, brincavam juntas, dormiam e se compreendiam de uma maneira que nem a psicologia comportamental saberia explicar. De tão magro e estranho ao chegar em casa, o chamamos carinhosamente de Extraterrestre.
Natal chegando, no termômetro 52°, distraí-me costurando umas meias velhas que as crianças enfeitaram com glitter e lantejoulas para pendurar na janela, na esperança de que papai Noel em sua misericórdia lembre de nós. A cada ano que passa, não há dúvidas, o GPS do bom velhinho, não identifica casa de pobres como nós. Mas das crianças não tiro essa esperança, dona Vera doou umas massinhas, lápis de colorir, peteca e corda e na noite de Natal, após elas dormirem, deixarei dentro de cada meia.
Por conta das ondas de calor excessivo, Extraterrestre não aguentou, faleceu na véspera de ano novo. Não tive coragem de dizer para as crianças. Disse que ele foi viajar para visitar a família.
Na ceia, pudemos saborear uma carne deliciosa que as crianças não souberam identificar, mas eu sabia muito bem.
Nem extraterrestre aguenta essas mudanças climáticas hahaha. Parabéns, Flávia!