Amigos e Amigas que, por costume ou ócio, vagueiam por minhas palavras.
Sou uma pessoa sensível. Não sei se já fazem leituras sobre minha pessoa enquanto engolem a seco minhas ideais e discursos, mas, sem faltar com a verdade, digo que sou uma pessoa sensível.
Sou daqueles que evita ler e ver filmes e séries que contenham idosos e crianças pois não vou suportar se algo acontecer com eles. Costumo preservar e cuidar daqueles (poucos) que amo.
O tempo não para. Do muro dos 40 olho para trás e vejo além de terra arrasada, pessoas que deixei pelo caminho. Ainda esses dias percebi que com algumas delas vivi uma vida em pouco mais de duas décadas. Tipo aqueles artistas geniais que morrem aos 27! Assim foram algumas amizades na minha vida.
Tem uma música de uma banda chamada "Fullheart" que gosto muito. "Carta ao Amigo" é uma canção que fala sobre a amizade de 2 pessoas mas uma dela bateu as botas. Estes dias essa canção tocou aqui nestes modos aleatórios de streamings e me pegou em um momento pós receber a notícia de que um dos meus melhores amigos da juventude e adolescência, estava novamente passando por problemas, sendo internado por questões de vícios, além estar com a saúde mental, financeira, amorosa e a vida toda cagada.
Amizades nos fazem carregar um peso imenso se de fato "somos amigos". Um laço que muitas vezes nos traz alegria, conforto e um sentimento de pertencimento. Mas, nem todas as amizades são fáceis. Algumas são repletas de obstáculos, dor e, por vezes, a necessidade amarga de distanciamento.
"Tentei te ligar, mas esqueci que você não pode atender". Logo que acaba a introdução da canção, esta é a primeira frase cantando por "Chinho", vocalista da banda. Essa frase inicial (que me pega em um estado de reflexão e tristeza no momento) me afoga imediatamente em um oceano de lembranças dolorosas. Quem nunca teve um amigo cuja presença se tornou uma ausência pungente? Aquele que, por escolhas pessoais ou circunstâncias implacáveis, se perdeu no labirinto das dificuldades. As drogas, a família disfuncional, a luta constante contra a incompreensão social – tudo isso constrói um muro que, de início, parece impenetrável. Quando recebi a notícia e esta música tocou, comecei a recordar das noites passadas juntos, das conversas e das garrafas na varanda. Ah, as garrafas! Vazias, mas sempre "com um fundo de esperança", como diria a canção. Como se o álcool pudesse dissolver os problemas e as palavras pudessem consertar o que estava quebrado. Não deu certo para ele, e, no geral, nunca dá certo.
"Tão perto, mas tão distante, você não precisava ir..." A amizade com aqueles que enfrentam dificuldades sociais intensas é um constante jogo de proximidade e afastamento. Comigo e esse meu velho e saudoso amigo, não foi diferente. Sempre esteve ali, ao alcance de um abraço, mas, ao mesmo tempo, tão distante que meus olhos e palavras já não o alcançava mais. É frustrante, é doloroso saber que eu optei por isso. Por vezes, É um misto de tortura e remorso reconhecer que, em alguns momentos, a única escolha (que pesei ser) sensata foi se afastar. Sim, eu me afastei. E carrego essa decisão como um fardo, um misto de arrependimento e alívio. Não é fácil assistir alguém se autodestruir e não saber fazer nada a respeito.
Jovens... tudo é uma piada. Tudo é frescura. Tudo é "pingua na Guela". Não era disso que ele precisava.
"Lembrei das frases, das garrafas na varanda, vazias, mas com um fundo de esperança". Tudo isso dói porque ao recordar os momentos de camaradagem, de confiança, de esperança, vejo como fui fraco ao abandoná-lo. Sim, havia esperança. Uma esperança ingênua, talvez, de que as coisas melhorariam. Que aquelas conversas profundas e embriagadas resolveriam os problemas complexos de uma vida marcada por traumas. Mas a realidade é implacável. Não foi suficiente. E agora, o arrependimento se mistura com a aceitação amarga de que, talvez, eu poderia ter feito mais. Ou, ironicamente, talvez não houvesse mais nada a ser feito.
"Longe da minha visão... Mas dentro do meu coração". A distância física não apaga as memórias nem a conexão emocional. Foram mais de 20 anos de amizade. Me distanciei pois consegui abandonar aquele barco insalubre. Ele seguiu de porto em porto. De garrafa em Garrafa. De pino em pino. Carregamos essas amizades desfeitas como cicatrizes, lembranças de um tempo em que acreditávamos poder mudar o mundo, ou pelo menos, o mundo de alguém. Cada vez que ouço "Carta Ao Amigo", sinto a punhalada do arrependimento, a consciência de que, por mais que a vida siga, certas ausências são irremediáveis.
A amizade, com todas as suas nuances, é um campo minado de emoções. As amizades mais complicadas, aquelas repletas de desafios e frustrações, são as que deixam marcas profundas. "Carta Ao Amigo" é um hino para esse meu sentimento, uma lembrança de que, mesmo à distância, as conexões que fizemos continuam a moldar quem somos. A vida segue, as amizades mudam, mas as lembranças, essas ficam. E, confesso para vocês caros leitores e leitoras, que não tive tão boas, engraçadas, vívidas, emocionantes e apaixonantes experiências nestes anos sem esse meu bom e velho amigo.
Enquanto tento esquecer, nunca deixo de sentir a falta que ele faz.
Pensando em voltar, amigo!
Bob wilson
Existem amigos e AMIGOS na nossa vida. Distância entre os primeiros acaba a amizade, enquanto entre os segundos permanece como uma promessa de reencontro, um dia. Tenho-a amigos de mais de 40 anos de amizade, distantes mas presentes no meu coração ♥️