Sobre a mesa de vidro
Desnuda à sua frente
Te convido à reflexão
Espalho-me sobre o tampo do vidro
Acima do teu chão
Sou um curativo que torna opaca a tua visão
Busco tua atenção
Testemunha da tua tensa respiração
Não me misturo com o vidro
Que à minha volta demarca
O sutil espaço onde me deito, sossegada
Que me deixa ver teus pés descalços
Tuas unhas, antes bem cuidadas,
Agora, abandonadas
Teu olhar pesado
Se move entre o presente e o passado
Pela janela passeia
Teu pensamento desencantado
Enquanto serena te aguardo
Tu me pegas, me encaras
Lembranças, teimosas escaras
Fingem e a elas tu te apegas
O vento me move, e me agarras
O vidro demarca o contorno de tuas mãos suadas
Que anunciam arrego
Inspiradas
Palavras descem em lentos movimentos
e me marcas
Liberta do teu pensamento
Sou teu confessionário
Sou teu escapulário
Convido teu pensamento a de ti escapar
Sorrio quando teus dedos voltam a se libertar
Enquanto culpam a aliança, que agora esbarram
Pelas lágrimas salgadas que logo jorram
E me rasgam
Remexendo lixos e gotejando sal,
Me arreganho para sentir o mal
Querendo-te bem
Amando-te como ninguém
A tinta me deixará fendas
Talvez nunca lidas, sem que entendas
Cumprirei meu papel como frágil ouvinte
Do que de ti arranco tão paciente
Me doando para de ti desprender os sentimentos
Que me defloram em tais momentos
e não mais se apagam
Mesmo quando, raivosa
Tu me rasgas.
Goretti Giaquinto
Desafio #59 de 365
Tema: Eu, Objeto
Escolher um objeto qualquer, narrar o seu dia a dia e/ou vida sendo este objeto.
Adorei! Amo poesia!
Lindo!