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Foto do escritorDiogo Dias

Um dia, graças a deus.

Jesus Cristo me assustou com seu olhar soturno. Ele mirava a funcionária da padaria que se dedicava a dar o troco com agilidade ao senhor que rendia a fila porque não trabalhava com cartão. Débito ou crédito, perguntou ela. O senhor - não o Senhor - estendeu a mão e passou uma nota de vinte, enroladinha e amassada. Ele tinha comprado só 4 pães, que davam uns R$ 3.87.


Os pães do senhor não foram multiplicados e renderam até o café da manhã do dia seguinte. O que levaria a uma nova visita à padaria em breve. Mas enquanto isso, as quatro unidades tilintavam na frigideira quando a vontade de um pão com ovo batia e o velho casal, juntos há 27 anos, resolvia chapar os pães pra deixar a receita mais atraente.


27 anos era a idade da funcionária. Ela pensava diariamente em deixar aquele emprego e montar seu próprio salão de beleza. Enfiou isso na cabeça depois de uma amiga elogiar as unhas que fez pra ela de favor. Depois desses pensamentos furtivos, vinha a próxima página. Será que aquele uber vai me ligar?


O uber já estava no décimo terceiro passageiro. Ninguém bêbado, ninguém excessivamente tagarela e ninguém indo pro Tremembé. Um dia bom, graças a Deus. Deus… falando em deus… aquela baixinha da padaria era uma graça! E Jesus olhava pra ela lá na padaria.


Eu olhei de novo pro quadro sacrossanto do estabelecimento. O olhar de Jesus não era bem soturno. Era decepcionado. Claramente a funcionária havia errado o troco. 

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