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Foto do escritorGoretti Giaquinto

Turismo Gastronômico e as Aventuras de Cada Um





Imagens adequadas no Canva, retiradas do pinterest e da IA/Microsoft



Em 1983, fui trabalhar em uma cidade no interior alagoano. Eu era jovem e, me definiam, afoita. Nordestina de uma cidade litorânea com fartura de frutos-do-mar, tenho náuseas com alguns. E fui convidada a um almoço na casa do gerente da empresa, para sociabilização com os novos colegas, e onde conheceríamos pratos típicos alagoanos. Logo anunciaram o caldinho de sururu, que esperei com interesse experimental. O caldinho de feijão era minha referência, um tira-gosto entre um pileque e outro, que consiste no feijão com alguns grãos macerados no respectivo caldo, servido ainda quente num copinho de plástico ou porcelana.


Os convidados logo se serviam e pegavam outro copo do tal caldinho. Como era minha primeira vez, iniciei pelo reconhecimento visual do quitute. Não tinha a menor ideia do que era sururu. Enfrentava um pequeno problema na cidade: besouros imensos apareciam em “turmas”, nas casas. Faziam parte do habitat local, onde a lavoura básica era de cana-de-açúcar. A imediata associação do mexilhão (a iguaria) com o besouro travou minha garganta. Eu não vou comer isso de forma alguma, pensava, desesperada, enquanto os colegas contavam o que sua região tinha de melhor — num bairrismo característico que imigrantes reconhecem.


A ânsia de vômito olhando os besouros-mexilhões eu disfarçava em pequenos goles, e nem tocava a boca ou língua nos bichos boiando no caldo amarelado. Bebia só o líquido, com a boca semifechada, retendo a respiração. Recusava outro copo — Deixa eu saborear melhor, dizia, juntado coragem pra jogar fora a comida, ou falar mal do que todos apreciavam, menos eu. No limiar entre vencer a ojeriza e engolir os bichos, descobri num vaso com planta grande, ao lado do sanitário da casa, a salvação. Pedi licença para ir ao toalete, e segui para o despejo da agonia social.  Não recordo como consegui jogar o conteúdo no tal vaso — o de plantas.


Voltei ao papo, disfarcei a vergonha, e consegui recusar outros caldinhos e tira-gostos desconhecidos — Vou deixar espaço para as outras experiências do almoço, dizia. Novos testes vieram, e o recurso foi misturar muita farinha aos pratos com fritada de massunim (marisco), casquinha de siri (crustáceo), e outros, diferentes do sururu-besouro, mas com cheiro tão forte quanto esse.


Entre as beliscadas nas comidas, engolia tudo de vez, com qualquer bebida ofertada — cerveja, vinho, caipirinha. Confesso que comi pouco e bebi muito, para enfrentar a situação. Terminei o evento jogando futebol com as crianças da casa, e, no dia seguinte, tive a minha primeira falta no trabalho— a ressaca foi brava.


Obs: Há muita comida diferente pelo Brasil, entre regiões e entre estados de uma mesma região. O sururu faz parte do Patrimônio Cultural e Imaterial de Alagoas desde 2014. Apesar de rata de praia, prefiro outro Patrimônio Cultural e Imaterial, desde 2007: o bolo de rolo. Esse eu faço questão de contrabandear, quando visito minha terra. E nem aceito produto falso, pois bolo de rolo não é rocambole! O legítimo é exportado de terras pernambucanas!










Desafio #20: Comendo com as palavras

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