Ela acordava com o coração batendo forte e rápido, a boca seca, escutando um grito seu que não sabia se havia sido real ou não. Tinha medo de voltar a dormir, quando acordada, e voltar a sentir o mesmo pânico que sentira momentos antes.
Nem sempre era o mesmo sonho, mas haviam elementos semelhantes entre eles. No mais dramático, ela estava na orla da praia, de uma cidade que reconhecia ter vivido numa época. Caminhava com olhar fixo no mar revolto, sentindo sua emoção compartilhada com as ondas barulhentas que quebravam na areia, em fluxo contínuo. Em um certo momento, pressentia que algo estava para acontecer. Paralisada, olhava para o horizonte e percebia a formação de uma onda gigantesca, que ficava maior com a proximidade da praia. O barulho era ensurdecedor, que ela não sabia como descrever, mas criava mais pânico à visão. O cheiro de maresia ficara intenso, e o gosto de sal descia pela sua boca em direção à garganta ressequida.
Em vez de correr, ela permanecia à espera do inevitável. Agarrada à sua máquina fotográfica profissional, que usava para tirar fotos pertinentes ao seu trabalho. Sabia que iria danificar a máquina, se não procurasse abrigo logo. Mas suas pernas desobedeciam sua razão, petrificadas pelo medo.
Num piscar de olhos, via-se envolta pela água do mar, com a certeza de que a onda a submergira, mas ela estava viva, e segurava sua máquina no alto, protegendo da fúria do mar. Neste momento, acordava, aflita. Tentava interpretar o sonho, entre imaginar que algo de ruim estava para acontecer - não que vivesse em uma cidade sucetível a terremotos e tsunamis, mas como era sempre alarmista, pensava nesta possibilidade.
O impacto do sonho perdurava por dias a fio. Não era psicóloga, mas sentia que algo estava submerso em seu inconsciente, tirando seu sono, e criando aquele sonho com mar. Se pensasse na sua vida naquele momento, com certeza encontraria o motivo, ou seriam os motivos?
Evitava ir à praia, com medo do sonho virar realidade - irreal, mas era melhor se precaver. Vai que naquele dia acontecia mesmo uma tsunami e seu sonho tinha sido premonitório? Recusava os convites de amigos para ir a luaus - nunca ouvira falar de tsunamis noturnas, por que será que não aconteciam? Iria pesquisar a resposta, um dia. Evitava ir para lugares que tinham água por perto, pelo mesmo motivo. Talvez o sonho indicasse que ela iria morrer afogada, num lago ou rio.
Seu lado lógico sugeria algo menos dramático. Talvez sua vida estava emocionalmente instável, e ela devesse ir a fundo naquilo. O fato dela tentar proteger o seu ganha-pão , sua máquina fotográfica, provavelmente indicava que ela estava, pelo menos, se sentindo forte no lado profissional. Seu lado emocional era o seu inimigo.
Na próxima ida ao seu psiquiatra, ela debateria isto.
Gattorno Giaquinto
Desafio#141/ 365: Sobre Sonhos e Medos (Parte 01 de 03)
Escreva uma narrativa curta sobre um personagem que tem um sonho recorrente que começa a influenciar sua vida diária.
1.Descrição vívida: o sonho deve ser descrito em detalhes vívidos, utilizando os cinco sentidos (visão, audição, tato, paladar, olfato) para criar uma experiência imersiva.
2.Impacto na vida real: mostre como o sonho afeta o comportamento e as decisões do personagem na vida real. Inclua pelo menos três cenas onde o sonho influencia diretamente suas ações.
3. Simbologia: incorpore símbolos que representem os medos ou desejos inconscientes do personagem. Explique ou sugira seu significado ao longo da narrativa.
Da última vez que sonhei com um "tsunami" veio a pandemia. O sonho era recorrente. Virou realidade... Às vezes, tenho medo dos meus sonhos 😉