Quando abri o site de notícias, uma reportagem me chamou a atenção.
Sou esperto pra desconfiar do ladrão, do assassino, do responsável por qualquer coisa que cause dano a alguém. Tenho esse feeling desde criança, quando algum colega escondia algo, eu logo achava. Achavam que eu era um bruxo ou coisa parecida.
Nunca me incomodei com apelidos desse tipo. O que me atraía e atrai, no alto dos meus vários anos de idade, é a possibilidade de descobrir o segredo por trás do que acontece. Talvez isso tenha me levado à notícia daquela manhã.
À primeira vista, parecia ser um fato sem importância, um cão desaparecido que estavam oferecendo recompensa pra quem encontrasse. As redes sociais estão cheias de comunicados de desaparecimento. A maioria prefere apelar para o sentimento, sem oferecer nada em troca. Querem de volta o que é seu, e pedem ajuda para encontrar. É justo.
Mas, o que podia ter de diferente num cão vira-lata que ofereciam R$ 5.000,00 de recompensa? E sair em site de notícias, com destaque? Quem publica algo assim, sabe que vai chover tentativa de golpe, alguém querendo dar um cão parecido como o procurado, pra receber o dindin. Pra ser notícia — e logo vitalizar nas redes, obviamente — deveria ter algo suspeito por trás.
Não que reencontrar um cão amado não seja tão valioso a ponto de dar algo valioso em troca, para agilizar o reencontro. Alguma criança doente que precisa do seu apoio emocional, depositado no pet de estimação. Ou algum cão doente, que precisa ser recuperado, para não morrer desamparado e longe da família humana. Algo assim, com enredo dramático responsivo.
Eu e meu instinto de desconfiança fomos atrás de mais notícias e especulações. Nenhuma trazia informações concretas. Só um e-mail de contato. E-mail. Nem todos possuem um, mas é fácil criar. Resolvi criar um e-mail só pra tentar respostas objetivas, e me colocar à disposição para ajudar. Se confiassem em mim, claro.
Enviei. Aguardei resposta, e continuei na busca de detalhes, de provas elucidativas. Quando a resposta ao meu e-mail chegou, eu já tinha recolhido alguns elementos e algumas hipóteses suspeitas.
Os dados que me fizeram chegar a essa hipótese era a repetição da mesma notícia, sem novas informações. Nem do que estava rolando após a publicação do anúncio.
Minha principal hipótese era que seria algo de marketing. Oferecem tantos cursos pra mudar nossas vidas num passe de mágica, talvez seja um golpe publicitário. No vale tudo pra ganhar dinheiro, exageram na criatividade.
Não havia fotos do cão perdido, só uma descrição que bate com a maioria daquela raça. Um Caramelo. Desses que parece praga, tem em cada esquina. E que nunca ninguém enxerga, passa batido. Difícil quererem dar tanto dinheiro para ter de volta, dá pra enganar com qualquer um da rua.
Enviei outro e-mail, ao ler outra notícia do assunto: que o cão havia sido encontrado, e o “resgate” tinha sido pago a quem o encontrou. Não contive a curiosidade, e pedi fotos do cão com a família, pra ficar mais tranquilo. Solidarizei-me com o reencontro, mas coloquei minha curiosidade por tanto dinheiro envolvido.
Não obtive resposta.
Sabe quando aquilo fica incomodando, e você quer ir atrás até descobrir? Pois é. Sou assim. Liguei pra todos os sites que divulgaram as notícias. Me identifiquei como jornalista que queria fazer uma reportagem para uma TV local fantástica, pela verbalização que o caso teve. Impossível que ninguém tivesse ido atrás, para saber mais. Eles eram jornalistas, eu era apenas um curioso metido a Sherlock .
Por fim, um dos sites me chamou para ir à redação. Finalmente, pensei, teria uma resposta à minha curiosidade. Fui preparado para respostas evasivas, já que sou um velho ranzinza curioso que não cansou de fazer perguntas, de ir atrás de respostas.
A redação era num prédio moderno. Uma sala repleta de jovens dessa geração que chamam de Millenium. Uma barulhada de criatividade efervescente. O chefe de redação (ou seja lá o nome que dão a que manda e aquieta os jovens impacientes) me recebeu, muito educado e com um largo sorriso. Me senti respeitado.
Me fez sentar numa poltrona à frente da sua, ofereceu água, café, refri. O que eu quisesse. Recusei educadamente, com a curiosidade saltando da minha respiração. Pra não começar a achar que estava me enrolando, fiz a pergunta direta: o que você tem a me dizer sobre essa notícia?
Ele começou a gargalhar, enquanto foi buscar algo sobre sua mesa. Voltou com um papel, me entregou e pediu pra que eu lesse. Mais curioso que um golfinho, li e comecei a rir, também. Ao final, ele né perguntou: aceita?
Eu respondi: claro!
Desde esse dia, sou colaborador do site. Passo pra vocês a curiosidade de saber o que tinha no papel. E qual a verdadeira história por trás do caramelo perdido.
Goretti Giaquinto
Desafio #47 de 365
Matéria de Capa
Escreva matéria investigativa ficcional incluindo, no mínimo, 4 personagens, fotos e imagens na matéria
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