Porra Meu Querido, tu fica com esses textinhos merdas regados a cigarro, bebida e sentimentos derrotistas e quer ficar rico na canetada?
Estava dando uma volta aqui pelo bairro para baixar o estômago depois da pratada do dia quando passei na frente de um bar e encontrei o “Famosinho” jogado na cadeira do bar (acredito que chorando), e o “Pimba” com um taco de bilhar na mão gritando e dando um esporro nele.
Famosinho tem esse nome porque participa de alguns saraus, já teve alguns textos seus publicados por aí e já participou de alguns programas de TV e rádio. Porém, é do cerne do escritor macho ser um fodido.
Tem homem fazendo dinheiro com escrita por aí? Tem! Mas a que custo?
Aquele escritor do tipo Hunter Thompson, Charles Bukowski, Nelson Rodrigues, já era. Morreram. Não se faz mais e se faz, tá fadado ao fracasso. Ninguém quer mais ler sobre porres, relacionamentos com putas, surubas, drogas. Hoje em dia a escrita tem que partir e abordar outros males e benesses da vida.
Famosinho só sabe falar de como ser um fodido bem sucedido. Dá para entender?
Agora (e sempre), na merda, não sabe fazer outra coisa a não ser mamar uns litrões de cerveja enquanto escreve o mesmo texto de sempre. 30 anos falando de putas, cigarros e bebidas. Mas como julgá-lo. Confesso que esse próprio que vos escreve agora, tem no seu maço de cigarro talvez seus 20 melhores amigos como diria o Jimmy Matanza. Tem no copo a fuga para toda a dor que esta existência traz: Contas, ex-mulheres, patrão, o Corinthians, saúde, política, guerras, frieiras…
Famosinho vive como eu: com um sonho na mente e uma caneta na mão. Porém, escrever sobre o que se a nossa caneta só sabe chorar.
Culpa tua, porra! Levanta, acha um emprego, troca essa calça suja, fica limpo, faça amigos…
Já dentro do bar, pedi uma água e um pão de queijo que era o que podia pagar, e na melhor cadeira daquele “cinema”, fiquei escutando esporro atrás de esporro que o Pimba dava no Famosinho.
Rede de apoio é algo que nos salva em dias difíceis. Mas para alguém expurgado da família e com sérios problemas sociais, na maior parte das vezes só o que nos sobra é o “Pimba”. Alguém tão sem modos quanto nós e que de psicologia entende zero. Comecei a refletir se para o Famosinho era melhor estar ali no bar escutando tudo aquilo, ou em casa escrevendo seu mesmo texto de 30 anos.
Tenho pensado muito sobre empatia e sobre as nossas micro-ações do dia-a-dia que podem salvar uma pessoa. Outro dia, escutava de um motorista de taxi o velho papo dele reclamando de impostos, e que o governo isso, e que as pessoas aquilo e acabou sobrando até para o vizinho do 723 que ao sair da padaria se deparou com um morador de rua e acabou deixando os pães que tinha comprado com ele. O taxista chamou o cara do 723 e falou “para de alimentar estes filhos da puta. São tipo pombos, se você da pão, eles não vão embora”.
Na moral, eu estava encostado próximo ao ponto do taxi fumando uma mesma bituca que encontrei apoiado na parede e controlando ela para não apagar só porque sou fofoqueiro mesmo e gosto de alimentar meu ódio escutando conversas de taxistas, motoristas de UBER e outras raças desgraçadas deste planeta. Gosto de saber quem frequenta, mora e trabalha no meu bairro. E um Filho da Puta deste que é capaz de comparar e tratar uma pessoa como um pombo, merece mesmo dois pneus furados. Só desejei e de repente, não sei como, aconteceu.
Não consigo conceber e aceitar a ideia de que se eu e minha família estamos bem, o resto que se foda. Não consigo ver o morador de rua passando necessidade e não tentar ajudá-lo dentro das minhas possibilidades. Não consigo ver o Famosinho “na menor” e aceitar o Pimba esculachando ele como se jogar esse monte de merda (verdades) na cara dele fosse ajudá-lo.
Enfim, não tinha mais dinheiro para ficar na mesa. 30 minutos é o que a etiqueta de um bar permite que você fique na mesa quando você só compra água e um pão de queijo. Paguei minha conta e na saída pedi um autógrafo para o Famosinho. Disse que o vi no último sarau (vi porra nenhuma) e foi o melhor texto dele. Ele enxugou as lágrimas, garranchou um autógrafo, esboçou um sorriso, agradeceu, e eu fui embora.
A escrita salva, amigos e amigas. A arte, em geral, salva.
Na saída, já longe do bar, amassei o papel do autógrafo e joguei no lixo.
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