No útero, abrigo
Nos braços, cuidados
Na boca, alento.
No fogão de lenha, fogo ardente.
Nas panelas, temperos,
No prato, alimento
Na mesa, respeito,
Na boca, o agradecer,
A fala mansa, calma,
A palavra
No quintal, alegria,
Sentada, a bacia entre as pernas,
O avental, a faca.
E descasca, lava, corta,
As vezes em quatro,
As vezes rala.
A laranja verde e enorme, fica branca
No tacho, deixa de molho
Pela manhã, bem cedo,
Escorre a água, leva ao fogo
E ferve, ferve, mexe e ferve.
Adoça, com muito açúcar
Deixa apurar, por longo tempo,
Fogo baixo.
A tarde, o doce de laranja azeda,
na mesa.
Em calda, cristalizado, picado
Ralado, ou só os pedaços.
À noite, ele chega, tira o boné,
Conta como foi seu dia.
Chama a atenção de todos nós,
Pergunta se fomos obedientes,
Se respeitamos a nossa mãe.
Sim, sim, sim........
No domingo, folga, dele.
Senta-se na cabeceira da mesa
Todos a mesa,
Pega um copo, coloca o vinho,
Oferece para cada filho, só molhe a língua,
Almoçamos em silencio.
Comemos o doce de laranja azeda.
A conversa rola, mas só entre ele dois).
A palavra agradecer, salta da boca de todos.
Nutri a língua,
É afeto, gestar, cuida, olhar
Ouvir, vir.
A língua é nutrida,
Desde o útero.
Dia de Escrever
Imagem : Folhagem
Midia Wix
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