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Na Oitava Série




Foi quando primeiro comecei a escrever. Minha psicóloga da época resolveu me perguntar na terceira vez que fui por que eu tinha ficado tão calado e olhando para janela enquanto mexia nas dobras do meus dedos. Me surpreendeu que alguém estivesse prestando atenção em mim. Sempre tive a vontade de ser invisível. Achava que ia ser uma delícia se ninguém conseguisse me ver e eu pudesse viver em paz. Pensava que eu não precisava conversar com ninguém. Só meu diálogo interno e meu mundo pessoal me bastava.


Contei para ela que inventava histórias na minha cabeça e me divertia muito. Me pediu para contar uma pra ela. Achei que deveria como agradecimento afinal ela tinha conseguido me ver. Quando tentei contar a história ficou agarrada na minha garganta. Não era a mesma coisa narrar. Imaginar tinha cor, cenário, personagens com suas roupas lindas e a historia fluía sem precisar ser explicada. Começou a surgir nas perguntas delas muitas dúvidas sobre minha imaginação e eu parei. Não queria que ela me visse mais. Foi quando ela me deu um caderno azul sem linhas e pediu para que eu colocasse ali cada detalhe da história que eu não tinha conseguido contar.


Aquele caderno azul foi o primeiro. Tenho um hoje com folhas pretas que faço frases e textos pra deixar a vida mais leve quando fico com vontade de ficar invisível. Amanhã mesmo pretendo escrever e desenhar nele. Depois que esvazia tudo na página eu consigo sentir um pouco da paz que eu busco. É uma maneira que tenho de conversar já que as palavras ditas, na maioria das vezes, me engasgam. Aprendi a compartilhar um pouco do diálogo interno através da caligrafia e da aquarela. As incessantes vozes da depressão que diariamente sussurram nos meus ouvidos se calam diante da força da arte.

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