Morreu a Esperança! Gracias, Viejo!
- Bob Wilson
- 13 de mai.
- 3 min de leitura
Amigos e Amigas.
Este cronista escrachado está de luto.
Hoje, morri um pouco.
A Terra ficou mais barulhenta, mais estúpida, mais sem rumo. Pepe Mujica morreu e junto dele foi-se um farol que, mesmo pequeno, teimava em brilhar num planeta que parece feito de petróleo e ganância.
Sim, aquele velhinho de cabelo bagunçado, que curtia um fusca e parecia ter saído de um boteco de beira de estrada, mas que falava como se tivesse almoçado com Sócrates e jantado com Jesus. Aquele que doou 90% do salário, morava numa chácara com três galinhas, um fusca azul e a consciência limpa. Que dizia as verdades como quem te oferece um mate: quente, amargo, mas cheio de afeto.

Mujica foi guerrilheiro tupamaro, foi preso por mais de uma década em celas úmidas e escuras, e saiu de lá com mais lucidez que muito coach de LinkedIn. Virou senador, depois presidente do Uruguai, e transformou seu país num experimento de dignidade em meio ao colapso ético planetário.
Em minha vida inteira, suas frases me acertaram como um tapa na cara dada por um avô cansado, mas justo:
“Pobre não é o que tem pouco, mas o que precisa infinitamente de muito.”
Botei isso na porta da geladeira. E juro, toda vez que me dá vontade de parcelar um celular novo, olho pra frase e ouço o Pepe, com aquele sotaque arrastado, me chamando de burro com carinho.
Foi ele quem disse também:
"A diferença entre a esquerda e a direita é que a esquerda pensa nos mais fracos, e a direita pensa em como fazer crescer a economia. A esquerda olha o mundo com os olhos dos que estão por baixo; a direita, com os olhos dos que estão por cima."
Simples, direto, e devastador como uma bomba de empatia no meio do debate político atual, onde direita e esquerda parecem mais preocupadas com o número de curtidas do que com o número de gente passando fome.
Pepe, com seu jeito de quem não devia nada pra ninguém, aprovou o casamento igualitário, legalizou a maconha para combater o tráfico, defendeu o meio ambiente e enfrentou a ONU falando de consumismo como quem briga com a própria sombra.
"O desenvolvimento não pode ser contra a felicidade. Tem que ser a favor da felicidade humana, do amor, da amizade, do encontro entre pais e filhos, dos amigos."
Mujica fazia política como quem cuida da horta.
Num mundo que celebra bilionários, vende corpos e compra consciências, Mujica era a mosca na sopa da festa capitalista. Um velho hippie latino-americano que, no fundo, era mais moderno do que todos os jovens empresários de terno slim e alma vazia.
Hoje, com ele partindo, me sinto mais órfão que nunca. A cada esquina do planeta alguém grita por um lugar melhor, e cada vez tem menos gente pra escutar. Mujica escutava. E respondia com filosofia, não com bala. Com generosidade, não com algoritmo.
Já está fazendo falta, Pepe. Faz falta demais. Você, o Papa Francisco (outro que taxavam de comunista de batina), e essa ideia absurda de que o mundo pode ser mais gentil. Que dá pra viver com menos. Que dá pra viver em paz. Faço parte deste clube dos que não são escutados, lidos e vistos.
Eu tô triste. Mas não desisto. Porque sua voz sempre vai ecoar em mim. E enquanto eu viver, vou tentar ser um pouquinho, Mujica.
Gracias, viejo!
Bob Wilson
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