Lutar Para se Orgulhar: Como Carregar Dissidência Corpórea, Sexual e de Gênero em 2025?
- Manoella Back
- 28 de jun.
- 3 min de leitura
Há três anos tive a honra de construir um trabalho maravilhoso em parceria com a Associação Lésbica Feminista Coturno de Vênus. Em artigo que compõe o livro “De Margem a Margem o Rio Avança: Dissidência Sexual e de Gênero, Raça, Etnia e Deficiências”, explico que a luta dos recortes de pessoa com def e LGBTQIAPN+ é muito mais que “I will survive”, de Glória Gaynor, ou da luta de Stonewall, levante de Marsha Johnson. Antes de retomar alguns pontos iniciados por este artigo, é importante levantar alguns dados:
56,57% das Pessoas com Deficiência são mulheres
No Brasil, 26% da galera def está na região Nordeste
A cada 32 horas um ser humano perde a vida simplesmente por sua orientação sexual ou de gênero.
Em 2023 foram notificadas 230 mortes, 184 assassinatos e 18 suicídios dentre pessoas LGBTQIAPN+.
Estes dados revelam uma atualidade bizarra de opressões. A pobreza e falta de acesso deficientizam. As mulheres são as maiores vítimas. A população LGBTQIAPN+ segue de carona nestas dores. Mas raras são as vezes que entrecruzam deficiências e LGBT+fobia. Este, portanto, é o objetivo destes escritos, mesmo que de maneira breve.
O “Queer”- Q, da sigla LGBT - é o desviante da norma: o não-binário, o que provoca, o que propõe relações entre o não-cisgênero ou não-heterossexual e abraça o socialmente “estranho”. O termo “queer” pode abraçar desde aquele seu primo que se veste todo diferentão em ocasiões formais ou até uma mulher-cis-bissexual ou a sua avó com cabelo roxo, por exemplo. Você pode dizer que são pessoas “diferentonas” não por rebeldia, mas porque gostam de se expressar de forma diferente do que a sociedade espera e devem ser respeitadas.
Sem tradução literal para o português, queer subentende o viado, a sapatão, a caminhoneira, o traveco ou a bicha. O “Queer” desafia as caixinhas pré-definidas nos próprios estudos de gênero e os complementa com os termos de heterossexualidade compulsória e performatividade de gênero.
De Mc Ruer, a Teoria Crip é a ideia de transmitir academicamente como as pessoas com deficiências são vistas na sociedade. Em outras palavras, é preciso estar para além da deficiência. É como fosse a vez da sociedade bancar aquele boy escroto e lançar “não é você, sou eu”. E sim, o problema é a scoiedade: É preciso alterar o meio e não a pessoa com def.
A Teoria Crip, se refere às pessoas com deficiência, que também já foram chamadas de “pessoas aleijadas”, “pessoas incapazes”, “inválidos”, “deformados” ou “defeituosos”. Assim se sagra a Teoria Crip, traduzida como “teoria aleijada”. Tal verbete aqui, não traz cunho pejorativo, mas de resistência de corpos que, no decorrer da história, sofreram com este termo. Estamos vivos, apesar de tudo.
Sob estes tópicos convém lembrar que tanto LGBT+, quanto pessoas com deficiência são patologizados. Em 1990, ser homossexual saiu do rol de doenças da Organização Mundial da Saúde. O mesmo movimento aconteceu com a população “T” em 2019. Já as PcD seguem na labuta em busca da validação social, mesmo inseridas na Classificação Internacional de Doenças. O foco, aqui, é presente e futuro. Então, bora salientar marcos legislatórios?
Para a galera def, temos:
Lei de Cotas (1991) - Garantiu que a gente pudesse trabalhar, mesmo que hoje não somos nem 2% dos profissionais formais
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006) - Aquela que disse que “nós somos pessoas!”
Lei Brasileira de Inclusão ou Estatuto da Pessoa com Deficiência (2015). Esta última, visa garantir uma vida livre de preconceitos e contempla todas as dimensões de acessibilidade.
Para as LGBT, temos:
Casamento civil homoafetivo - Aqui, como acesso à herança e plano de saúde com a,o,e “conge”. (2013)
Adoção por casais homossexuais (2010)
Lei da Identidade de Gênero e exigência de ser chamada como me identifico (2018)
Criminalização da Lgbtfobia (2010)
Doação de Sangue - Por pura lgbt+fobia não tinhamos direito ao direito, acredita? (2020)
E o futuro?
As leis estão feitas e criadas, lindamente. A história fortalece nossa luta. Para o futuro, os direitos estão violados, porém, para que a gente não fique só nesse caminho é importante fiscalizar. Em parceria com a Editora Questione e o Comédia Sentada trabalhamos a formação de Recortes: População LGBTQIAPN+ e PcD. Nela, destacamos e propomos, potenciais agendas decisórias e responsabilidades do mundo corporativo em relação a estes recortes sociais.
É relevante abolir discursos prontos e entender que pessoas diversas não são apenas símbolos de representatividade. Isso requer atitude firme e respostas rápidas diante de qualquer discriminação, além do compromisso com os pilares ESG — especialmente nos eixos Social e Governança — como base para alianças e ações transformadoras. Caso tenha interesse em mergulhar no assunto, proponho a leitura do capítulo “I will survive” aqui que coloca mais caraminholas de luta em sua cabeça.
Manoella Back
Commentaires