Extensão / Corpo / Espaço
- Stela Alves
- 17 de mar.
- 2 min de leitura
Instalada a pouco tempo. Não olhei, não observei, apenas entrei.
Instalei-me.
Ainda na tentação de ousar em cores.
Em sua brancura, moldo quadros extravagantes.
Nas pequenas texturas vou aprofundar essas fendas.
Trocar reinventar, colorir.
Não há namoradeira!!!!!
E por que deveria ter uma? Não existe o ser namorado para sentar, abraçar, beijar, acariciar, romancear. Cada dia um novo olhar, uma nova sensação, um aflorar de sentimentos diversos: tristeza, sorrisos, paz, solidão e solidez.
A visão é agradável neste lugar em que me instalei.
A janela. Dela, observo sempre no mesmo horário o rapaz do prédio lá longe, na sacada a exercitar-se, outro corpo sai na sacada ao lado, para fumar. Corpos contraditórios, e similares ao mesmo tempo. Também estou em contradizer o dito anteriormente, por não dito. Na janela acima dessas sacadas uma menina pula, e nesse pulo bem alto, parece estar à procura da felicidade que sua mão possa alcançar. (ou talvez o buscar da rua).
No quintal à frente de minha amada janela, as folhagens verdes e vermelhas em balanço, e o beija-flor bailando, com as asas em movimentos tão rápidos que não acompanho. Beija, suga, a porção diária do néctar, seu café da manhã.
Ando, revisito lugares visitados, danço, coloco meu ouvido na parede, espero resposta para a pergunta que fiz.
Ando, revisito lugares ainda não visitados, e que imagino também estão conectados nesse espaço determinado.
E o ouvido colocado na parede. Sem resposta. O corpo pede espaço, pede para abrir braços, pernas, escapulas, pensei em me esculpir nas paredes. Vou tentar, um braço acima do rack, as pernas nas almofadas. A cabeça no teto, os pés esses sim no chão. Tudo como um elástico, que estica, estica, é assim que preciso estar nesse retiro, esticada.
Prolongar meus olhos, que será minha extensão para além desses prédios, dessas árvores de caules grossos, desse quintal.
Olhar o quanto essa janela é extensa, que agora não está na altura de minha visão. Prolongar meus braços até meus dedos brincar com as folhagens verdes e vermelhas no quintal do vizinho. Prolongar meus passos, para além desse piso que reveste o chão.
Prolongar minha voz para além desse papel.
Prolongar e ser prolongada, velejar nessa brancura profunda da parede.

E sigo nesse retiro, nesse silencio.
Prolongar e projetar meu ser, para além dessa reclusão.
É uma escrita durante a pandemia, morada nova, reclusão.
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