Corpa-Fêmea Incendiária
- Stela Alves
- 15 de set.
- 2 min de leitura
Às vezes o envelhecer causa, recusa, medo, tremor.
Como entender o etarismo, idadismo, ageìsmo, presença constante nessa cidade que envelheço? Como caminhar vendo a gerontofobia e a gerascofobia, o excesso para valorizar a aparência e tentar negar a passagem do tempo? Como posso lidar com a exigência da sociedade para chegar bem à velhice, ser um padrão idealizado? Hoje uma exigência dessa sociedade hipócrita,sutil e universal, um espelho falso do acolher o envelhecer.
Como um mosquitinho, incessante, perturba o cotidiano, gruda na pele.
Tenho um entender do meu envelhecer, é naturalidade.
Nascemos, criançamos, adolecemos, adultamos, envelhecemos.
A cada passar do tempo meu corpo se transforma, se metamorfosa.
Recebo com modéstia esse envelhe(ser).
Meu corpo transita entre o delicado e o bruto, as carícias são com mãos calejadas. Corpa-fêmea.
O tempo passa, em velocidade maior, as vezes não.
O perfume que antes se aplicava nesse corpo, hoje pode ser aroma , paladar.
O corpo, antes oceano, agora é rio: que o tempo não polui.
O peito é madeira, estala, não por fraqueza, mas por ter sustentado tempestades.
Cada ruga é um nó, um anel de crescimento.
O vento já não seduz, ele empurra. E a chuva não refresca, ela infiltra. Escorre, escorrega pela corpa-fêmea.
O sol agora queima com propósito. Arde, vivacidade.
Envelhecer é virar rocha! É visceral.
É ferro que não se dobra. Madeira, não se quebra fácil.
Mas também é consciência, não se ilude.
Envelhecer não é poema de flor.
Corpo virou ferramenta, mas ainda é ornamento.
Envelhecimento é um processo individualizado.
Envelhe(ser) não escolhe cor, raça, gênero, sexo, etnia, país, religião.
Acontece, só acontece.
Esta corpa-fêmea virou território.

Fronteira marcada.
Bandeiras fincadas por amores e desilusões.
A juventude é chama.
Envelhecer é brasa, mas ainda capaz de incendiar.
O caminho se torna solitário e árido ......é só um trecho.
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