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Corpa-Fêmea Incendiária

Às vezes o envelhecer causa, recusa, medo, tremor. 


Como entender o etarismo, idadismo, ageìsmo, presença constante nessa cidade que envelheço? Como caminhar vendo a gerontofobia e a gerascofobia, o excesso para valorizar a aparência e tentar negar a passagem do tempo? Como posso lidar com a exigência da sociedade para chegar bem à velhice, ser um padrão idealizado? Hoje uma exigência dessa sociedade hipócrita,sutil e universal, um espelho falso do acolher o envelhecer. 

Como um mosquitinho, incessante, perturba o cotidiano, gruda na pele. 


Tenho um entender do meu envelhecer, é naturalidade.

Nascemos, criançamos, adolecemos, adultamos, envelhecemos.

A cada passar do tempo meu corpo se transforma, se metamorfosa.

Recebo com modéstia esse envelhe(ser). 


Meu corpo transita entre o delicado e o bruto, as carícias são  com mãos calejadas. Corpa-fêmea.

O tempo passa, em velocidade maior, as vezes não. 

O perfume que antes se aplicava nesse corpo, hoje  pode ser aroma , paladar.

O corpo, antes oceano, agora é rio: que o tempo não polui.


O peito é madeira, estala, não por fraqueza, mas por ter sustentado tempestades. 

Cada ruga é um nó, um anel de crescimento.

O vento já não seduz, ele empurra. E a chuva não refresca, ela infiltra. Escorre, escorrega pela corpa-fêmea. 

O sol agora queima com propósito. Arde, vivacidade.


Envelhecer é virar rocha! É visceral. 

É ferro que não se dobra. Madeira, não se quebra fácil.

Mas também é consciência, não se ilude. 

Envelhecer não é poema de flor. 

Corpo virou ferramenta, mas ainda é ornamento.


Envelhecimento é um processo individualizado.

Envelhe(ser) não escolhe cor, raça, gênero, sexo, etnia, país, religião.

Acontece, só acontece. 


Esta corpa-fêmea virou território.

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Fronteira marcada. 

Bandeiras fincadas por amores e desilusões.


A juventude é chama. 

Envelhecer é brasa, mas ainda capaz de incendiar. 

O caminho se torna solitário e árido ......é só um trecho.




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