Bom, eu não sabia como começar isso aqui direito, então talvez eu devesse começar
falando quem sou eu, né?
Meu nome é Lucas Dealis, nasci dia 07 / 12 / 2005, tenho 15 anos e ás vezes sou poeta, e é até engraçado eu falar isso, porquê parece que esse título nem me pertence ainda, e eu nem sei explicar, no dicionário diz que poeta é um escritor que compõe poesia, mas eu sei que é muito mais que isso, e que poesia vai muito além de escrita, e por enquanto eu acho que só escrevo, ainda tentando fazer algo a mais.
E é uma coisa que eu paro pra pensar há muito tempo, desde quando eu faço poesia?
Porque escrever é simples e eu tô fazendo isso agora, mas desde quando eu sou poeta de
verdade? A minha vida até meus 6 anos eu lembro muito pouco pra contar aqui, mas a maioria das pessoa é assim mesmo, eu nunca fui uma criança agitada, sempre tava quieto no meu canto com meus próprios pensamentos, sempre me mudando pra várias casas tanto tempo, e nunca ficando tempo suficiente em uma pra criar momentos desse jeito, só aos meus 6 anos que me mudei para uma casa que ficou marcada na minha memória, até porque morei lá até meus 13 anos de idade, e é até interessante de se pensar que eu cresci com uma vontade extrema de conhecer o mundo, mas passei a maior parte da minha vida em um quarto q não tinha nem janela pra eu olhar o mundo por ela.
No começo eu era novo, e as coisas pareciam bem simples, sempre parecem, né? A
gente não enxerga os problemas de verdade, e assim é até bom, como crianças acabamos
sendo mais felizes mesmo, as vezes sinto falta dessa sensação de simplicidade. Mas eu jamais diria que tive ou tenho uma vida que é triste de algum jeito, sempre tive meu pai e minha mãe comigo me auxiliando e me mostrando o caminho certo das coisas.
E essa casa era do lado da minha escola, escola a qual eu estudei do 1° ao 9° ano do
ensino fundamental, e como eu falei, nunca fui de me enturmar tanto, era mais extrovertido em casa, mas fora dela eu sempre fui mais inseguro e quieto, mas com o tempo as pessoas que acabaram se aproximando de mim e eu posso dizer que naquela época fiz uns amigos, não amigos de, sei lá, vir dormir na minha casa ou algo assim, mas eu me divertia muito com eles.
A arte desde cedo sempre foi presente na minha vida, a poesia mais do que qualquer outra, até porque meu pai sempre veio desse eixo do rap, ele não chegou a cantar ou escrever, mas foi quase, inclusive a maioria dos amigos dele trabalham com isso hoje, e ele sempre me passou essa mensagem de resistência do rap desde cedo, cresci ouvindo os mais clássicos e era muito bom, conforme cresci me aprofundei em outros meios da arte, seja dança, desenho, mas não adiantava, eu me descobri mesmo na poesia, e toda essa relação de escrita e sentimento, a sensação era como se eu precisasse daquilo há muito tempo, só não tinha descoberto ainda, quer dizer, escrever eu sempre escrevi, mas só depois de uns anos que eu fui entender que eu tava fazendo poesia, isso foi mais ou menos aos meus 12 anos, a escrita servia quase como um refúgio para mim quando eu não tava bem, seja por brigas em casa, seja por dinheiro, ou melhor, a falta dele né, todo mundo só tava mais estressado mesmo. Mas as coisas sempre dão certo no fim, eu gosto de me apegar a esse pensamento pra me sentir bem às vezes, e bom, nessa época deu certo, pelo menos.
Aos meus 13 anos, quase 14 já, comecei a frequentar os Terreiros de Umbanda, meus
pais desde novos sempre frequentaram e acreditavam fielmente nisso, mas por conta de coisas da vida acabaram se afastando disso e da própria espiritualidade, mas mais ou menos nessa época, meu primo, que ia quase todo dia em um o qual ele já auxiliava nas cerimonias, ficou falando para minha mãe ir, até que ele convenceu ela e ela foi, com todo mundo aqui de casa, meu pai, minha irmã e eu, e foi a partir daí que as coisas começaram a dar mais certo, eu conheci como funcionavam as giras, e foi uma experiência incrível, mais do que qualquer igreja já tinha me causado, era uma sensação de acolhimento, conforto lá dentro, e toda semana a gente começou a ir frequentar as giras, sempre muito aprendizado, eu saía de lá me sentindo alguém pelo menos um pouco melhor, foi como me encontrar nessa religião também, e hoje eu falo com orgulho que sou umbandista mesmo, apesar de saber o que a maioria das pessoas pensa sobre "macumba" e religiões de matriz-africana como um todo. Sem querer desmerecer qualquer igreja também, viu gente, eu respeito todas as religiões e acredito que as pessoas podem ter diferentes experiências em lugares iguais, do mesmo jeito que não me sentia tão bem na igreja como me sinto no terreiro, as pessoas podem se sentir assim no terreiro e bem na igreja.
Mais ou menos nessa época, outra coisa muito importante aconteceu também, certo
dia uma professora entrou em sala de aula e me disse que tinha um projeto começando na
escola e quem quisesse participar falasse com ela, era um projeto chamado "Slam" ou "Poetry Slam" se preferir o nome mais longo, algo que no momento eu não sabia o que era, mas quando descobri, me fascinei totalmente, batalhas de poesia falada, um movimento também de muita resistência de pessoas que vem da favela, ou senão só pessoas que tem muito o que dizer com sua arte, com sentimento, aquilo era incrível pra mim, e naquela época eu já era muito relacionado com a arte, seja o teatro que eu sempre amei, a escrita, todo tipo, e eu também sempre vi como as pessoas desvalorizavam essa arte mais "amadora" e arte que consideravam mais "profissional" era quase inacessível pra gente que não tinha dinheiro, então na oportunidade de poder estimular essa arte em um ambiente como uma escola publica, era muito massa e eu queria poder fazer parte disso.
Foi quando entrei pra esse mundo do Slam e conheci muita gente daora, me senti
totalmente acolhido, o primeiro que fui foi o Slam do Helipa, que era organizado por um pessoal da favela do Heliópolis e era do lado de casa para eu ir. Comecei a frequentar e tava sendo incrível, mas eu não me prendi apenas ao lado de casa, eu cheguei a ir muito longe, tipo, fui na favela do real para o Slam do Real, que o pessoal que organiza eu já tinha conhecido um pouco antes em outros. Cheguei a ir até São Miguel Paulista para um sarau muito bom, conheci tanta gente diferente nisso, e quando eu declamava a minha poesia era surreal, porque as pessoas paravam pra me escutar, elas estavam ali e escutavam o que eu tinha para dizer, mas o Slam e a poesia vão muito além disso, eu também escutava atentamente a poesia de cada um, e cada lugar que eu ia era muito aprendizado. Escutar diferentes pessoas, que passaram por diferentes coisas, fez eu me encontrar, finalmente. Eu tava finalmente fazendo mais amigos também, tava sendo um ótimo momento.
Até que um pouco depois de eu fazer 14 anos em dezembro de 2019 e entrar no ano de 2020, eu acabei me mudando de casa novamente, só que dessa vez para outra cidade, onde eu moro hoje, em Santo André, o que ficou até que bem longe de onde eu morava antes, isso me afastou de vários amigos e do Slam da escola. Eu ia mudar de escola também, mas acabamos entrando em uma pandemia mundial e eu continuei por EAD, mas já distante de umas pessoas que eu tinha me aproximado por causa da poesia na escola, distante fisicamente e acabei ficando distante sentimentalmente também. Mas nesse mesmo ano me veio algo incrível, o Slam Interescolar, que é a competição de poesia falada ainda, só que agora pelas escolas públicas de São Paulo. Eu ainda estava na minha antiga escola e, como ia ser online, acabou ficando tudo remoto e eu participei. A minha professora me auxiliou bastante e a poeta que tava guiando eu e alguns outros alunos e auxiliando para o interescolar, era a Tawane Theodoro, uma poeta incrível e muito talentosa do Capão Redondo, sempre fui muito fã dela, eu acabei não vencendo o Slam interescolar, mas ainda saí muito vitorioso só de ter participado ao lado de todos os outros poetas lá, uma ótima experiência.
Mais um tempo passou, eu fiz 15 anos e a pandemia foi continuando e ainda muito longe de acabar, em janeiro de 2021 a Tawane me chamou e me falou sobre esse projeto incrível que é o "É dia de escrever!" e falou se eu queria entrar, eu obviamente concordei e acabei entrando, eu só me sinto um pouco culpado por não estar tão presente nele quanto eu gostaria, as coisas tão difíceis em casa, mas eu sempre vou levando a vida como levei. Graças a poesia hoje eu consigo ser muito mais extrovertido do que era há uns anos, mas só um pouco, às vezes ainda sou bem quieto no meu canto, espero que isso tudo passe logo, já durou tempo demais consumindo nossas mentes, acho que minha autobiografia é basicamente isso, talvez eu tenha esquecido algo, mas pelo menos eu tentei.
Muito obrigado por chegar até aqui!
Notas do autor: O título da autobiografia, "Autobiografias são difíceis", é mais pelo fato de que eu tenho um pouco de dificuldade de falar sobre mim mesmo, e isso acabou sendo um desafio por um bom tempo para mim, mas se você tá lendo isso então eu provavelmente consegui, e isso é bom!
Lucas Dealis integra o Grupo de Jovens do projeto É DIA DE ESCREVER.
Segue ele lá no @poeta.lucasdealis
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