Envelheço na cidade, diz a canção.
Olhos abertos, ouvidos atentos.
Tudo vejo e nada ouço.
Seu centro é frio, obscuro, recolhe sentimentos, sentidos
Marcas cravejadas no ar.
Frases derramadas pelos muros.
Os poetas de rua.
Faz pensar o quanto com o tempo se perdeu.
Pinturas apagadas, cinemas fechados,
Prédios destruídos. Abandonados. Perdidos.
A jovem cidade solapada pela destruição, ainda existe.
Eu sou a jovem cidade.
Incluso em sua frieza, entre muros, ruas, casas, museus.
Guarda memórias.
Minhas memórias.
Embranqueço na cidade.
O caixeiro viajante, traz em sua mala, novidades da Capital.
O pano de chita para o vestido da Maria,
O pente de cabo dourado, feito ouro, para os cabelos encaracolados da morena.
O chapéu de abas, para o elegante da cidade.
Para o homem de cabelos grisalhos, que trabalha no campo, um chapéu de palha.
O andarilho percorre as estradas de terra batida.
E em qualquer parada, encontra ouvidos ávidos,
Loucos para ouvir sua voz.
Com alegria e atenção, sorriso largo narra suas histórias.
As que colheu pelas estradas percorridas.
O viajante.....
Ahhhhhh!!!!!! Esse sim, explora trilhas, desbrava campos, matas, aldeias, cidades, muros.
Conhece mil lugares, e preserva para si.
E a cidade se forma.
Absorve tudo e se transforma.
Assim é meu corpo, em metamorfose.
Jovial e sorridente
Os ombros se arcam.
Joelhos e pernas enfraquecem.
As mãos se fecham sem nosso querer
E os pés!!!! Esses pés caminham vagarosamente.
Nas ruas acúmulos de automóveis, prédios, buracos.
Problemas.
As pessoas disputam os espaços.
Assim é meu corpo, acúmulos de sentimentos, sensações, lembranças.
Os ombros, joelhos, pernas, mãos e pés da cidade, estão consumidos, exaustos e se curvaram, arquearam.
Abre, abre, abre espaço para o jovem.
Envelheço com a cidade.
Envelheço como a cidade.
Envelheço na cidade
Idade.
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