Lá na minha adolescência, em pensamento eu dizia que era mais um ano sem ninguém. Entre encontros e desencontros, certo dia me casei e num outro dia qualquer descasei.
Muita água passou debaixo daquela ponte, desde o dia que recomecei do quase zero até alcançar o dia atual.
Sabemos que não começamos do zero, afinal na ponte da vida existem muitas marcas e experiências para nortear nossos próximos passos. Essas marcas, ditam o que queremos e o que não queremos. Na reconstrução do nosso eu, planejamos, ditamos, escolhemos, nos recolhemos até o dia que percebemos a liberdade pessoal. E, como percebemos isto?
Todo ano as pessoas "comercializadas", se preparam mais e mais para o dia doze de junho. Restaurantes, lanchonetes e demais comércios que exploram a data do amor, enchem seus estabelecimentos de fitilhos metalizados, balões e corações vermelhos como se fossem motéis permitidos à céu aberto, onde famílias podem acessar mesmo que estiverem com suas proles.
Saí do trabalho e fui caminhando até chegar em casa, naquela tarde de doze de junho de dois mil e vinte e quatro, observando os devaneios sociais de mais uma data para arrancarem seus míseros reais dos bolsos/conta bancária. Vi entregadores de flores nas motocas, homens comprando garrafas de vinho embaladas em celofane, restaurantes sendo enfeitados desde as portas com balões de corações, fitas metalizadas sendo penduradas nas portas de vidro fumê, mulheres perfumadas andando em seus carrões, pessoas felizes e saltitantes, e eu caminhando de volta para casa, pensando no jantar especial que ia preparar.
Chegando em casa, fechei o portão, abri a porta da casa, coloquei um macarrão na panela, fiz um molho de tomate, arrumei a mesa, abri um vinho, fui tomar um banho. Arrumei as mochilas para o dia seguinte, fiz um atendimento online, troquei a roupa por um confortável agasalho, sentei na cozinha para o jantar, tomei uma taça de vinho tinto seco saboreando e identificando seus aromas. Arrumei a cozinha, assisti alguns episódios da série "Sr. Monk", alimentei os cães, fechei a casa, apaguei as luzes e fui para cama, eu com meu amor próprio, sentindo a liberdade conquistada, com a sensação de que em todos os dias posso comemorar o dia do amor onde eu quiser e como eu quiser.
Essa é a liberdade da vida madura e independente que eu conquisto diariamente.

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